Thursday, August 14, 2008

Wednesday, August 13, 2008

Merecido

Mas também, quem inaugurou as composições na escola primária a irritar a professora por dizer que o que preferia no circo era o ilusionista (e não "os palhaços", a resposta correcta-chapa-5), só pode sentir-se justiçada.

Era pouco e se acabou

Mau grado meu, é com "Música" de Vanessa da Mata que este dia termina.

Psicadelismo

Quem precisa de MGMT quando se pode ouvir os bons e velhos Flaming Lips a toda a hora?
"Do you realize
that you have the most beautiful face
do you realize
we're floating in space
do you realize
that happiness makes you cry
do you realize
that everyone you know someday will die?

And instead of saying all of your goodbyes
let them know
you realize that life goes fast
it's hard to make the good things last
you realize the sun doesn't go down
it's just an illusion caused by the world spinning round"

Tuesday, August 12, 2008

YES!

Saiu o mais recente Inquérito às Despesas das Famílias do INE. Muitíssimo melhorado face às edições anteriores, traduzido para inglês para quem queira e, acima de tudo, fascinante do ponto de vista da caracterização dos rendimentos e dos consumos da nossa população nas últimas décadas. Obrigada, INE: tenho orgulho em vós. E ainda bem que esperei um bocadinho mais antes de ir de férias :)

Monday, August 11, 2008

Leituras de fim de semana (2)

Esteve bem Inês Pedrosa nesta sua crónica da revista "Única" do Expresso, publicada no passado sábado. "Passa, uma merda", diz ela a António Lobo Antunes, referindo-se ao débil consolo proferido por muitas mulheres quando o amor, a esperança e o perdão terminam ("depois chorei um bocado e passou-me"). Inês Pedrosa comoveu-se e comoveu-me. Escalpelizou e acarinhou as mulheres, as manhas das mulheres, os enganos das mulheres, os esforços das mulheres, dessas incontáveis mulheres que diariamente guerreiam consigo e com o mundo, "com os olhos na paz", como diria o Sérgio Godinho. Bonita crónica.

Leituras de fim de semana (1)

Escreve regularmente na "Sábado" um senhor que é apresentado com o nome de Alberto Gonçalves, sociólogo. O senhor não escreve mal, mas é azedo, antipático mesmo. Demasiado. Das vezes que o li, não me lembro de lhe ter apanhado um elogio a nada. Tudo o estorva, tudo o insulta, nada o contenta. A coisa intriga-me: pela fotografia, o sujeito não se afigura mal-parecido; autocognominando-se sociólogo, aquilo que geralmente diz não podia ser mais anti-social; por fim, não há nada de errado em ser-se de direita como ele tão esforçadamente demonstra, mas daí a assumir a missão de ter que zurzir no mundo daquela maneira verrinosa, vai uma distância. De onde raio lhe virão tão maus fígados?

Para dizer mal, falta-lhe a genuína habilidade e graça de um João Pereira Coutinho que, sendo também de direita, sabe rir-se e ser mordaz com grande inteligência e invejável arcaboiço intelectual. Este, que exerce o seu métier com inigualável estilo, não precisa da muleta de nenhuma "profissão especialista": é excelente a escrever, e é quanto nos basta e sobra. E acima de tudo, sabe como dizer mal e sabe quando dizer bem.

Porque sempre desconfiei de dois tipos de pessoas: as inseguras (que são, quase sempre, muito perigosas) e as que só sabem dizer mal.

Friday, August 08, 2008

Nunca pensei vir a dizer algo deste género, mas...

Perdi-me de amores por esta miúda.
E percebi que era recíproco, quando ontem lhe sussurrei ao ouvido que compreendia perfeitamente como é que ela já tinha tantos pares de sapatos, porque nunca serão demais; ela riu-se logo de satisfação.
Pisquei-lhe o olho, cúmplice, e fi-la saltar no meu colo.

Da estratificação social

Só agora me preparo para pôr parte do que sei e sinto sobre o tema por escrito numa tese, mas a primeira vez que fui confrontada com a noção de "estratificação social" foi há 27 anos, na escola primária que então frequentava numa aldeia do concelho de Ourém.
Numa sociedade completamente rural como era aquela, havia dezenas de miúdos filhos de camponeses e outros assalariados de baixas qualificações, e duas meninas filhos de empregados do terciário. Uma era eu (que era morena) e a outra chamava-se Sandra (que era loura).
Como é que aprendi, não na pele, mas na consciência, esta diferença? Era simples: a professora batia sem contemplações nem medida nos filhos dos pobres, não se atrevendo a tocar nas duas únicas filhas dos "ricos".
Assistir aqueles espancamentos regulares, por parte de uma matrona imensa e insensível (que dizia aos meus pais adorar-me, mas a quem eu desprezava, já que felizmente nunca fui obrigada a temê-la, nem a ela nem a ninguém), naqueles infelizes pequenitos, deixou-me uma revolta imensa que marcou definitivamente a minha forma de ver o mundo.
Nunca partidarizei a questão, nunca a levei para os dogmas do maniqueísmo: percebi, simplesmente, a minha obrigação de ser uma pessoa melhor e de tudo fazer para consagrar, mais do que em palavras, em actos, o direito que todos têm à igualdade de oportunidades.

Hoje é quase irónico que eu fale da estratificação social à volta de um tema aparentemente tão mais ligeiro que uma carga de pancada, que é o consumo.
Mas não é ao acaso: queiramos ou não (e não esquecendo as neo-angústias daí advenientes), há no consumo um potencial de escolha, afirmação e concretização de sonhos que seriam impensáveis há décadas atrás. Só pelo facto de agora ser um pouco mais difícil distinguir os ricos dos pobres, quer-me parecer que vivemos numa sociedade bastante melhor.

P.S. Quanto ao passar a ser definitivamente proibido e sancionado bater-se nas crianças (sejam professores, pais, ou outros, a perpetrá-lo), espero poder viver para assistir à concretização de mais esse sonho. Há dias houve um tribunal de Braga que aplicou uma multa a um pai que bateu na filha de 16 anos: é um começo. (E não me venham com conversas: o exercício da força perante um ser mais fraco do que nós é pura e simples falta de inteligência para ser convincente de outro modo. Ou acham que se a criança pudesse bater de volta não se arranjava logo uma argumentação diferente?)

Tuesday, August 05, 2008

Dicas de viagem

Ontem, a minha amiga madeirense e eu recebemos, ao mesmo tempo, os nossos respectivos guias de viagem à Jordânia. O meu chegou após 3 dias de encomenda e o dela ao fim de 3 meses (ambos da Amazon). O meu menciona a proibição tácita de usar bikini nas praias públicas de Aqaba e no Mar Morto, aconselhando mesmo o banho em calças e tshirt (recomendação para a qual tenciono borrifar-me completamente; o máximo que condescendo é em levar um fato de banho de piscina, e e…). O guia dela, por outro lado, diz que andar com o cabelo molhado na praça pública equivale a anunciar ao mundo (jordano) que se acabou de ter sexo. Estive quase a puxar de outro cigarro, mas depois pensei maliciosamente: “ainda não…”.

A revista errada

Há dias parei na BP de Telheiras para comprar um maço de tabaco (que é uma coisa que costumo consumir quando o rei faz anos e portanto só por um triz é que não chega a durar décadas). Já tinha pago quando, frente ao escaparate das publicações, procurei debalde a revista rasca de TV que a minha amiga I. me dissera conter uma entrevista com uma antiga colega de apartamento nossa, dos tempos da faculdade. (Parece que continua platinada e protagoniza agora um programa para emigrantes: manteve portanto uma coerência espantosa). Não encontrei a revista; em vez disso, dei de caras com umas parangonas de tablóide a berrar: “Desejada em todo o mundo, Sarah Jessica Parker traída pelo marido”. “Pôrra!”, pensei. E aquilo abalou-me de tal modo que tive que acender um cigarro.

A guerra dos sexos

Um dos artigos do Courrier Internacional deste mês é sobre a divisão do trabalho doméstico por géneros e não traz novidades quando constata que, mesmo nas famílias mais modernas do mundo ocidentalizado, a proporção do trabalho feminino com a casa e os filhos duplica, no mínimo, o masculino. Mas há um dado realmente curioso a assinalar: seja quais forem as profissões, quer em nível, quer em área, deles e delas, o casal tende sempre a achar que a profissão dela é a mais flexível e, portanto, mais passível de abdicação, na totalidade ou em parte. Exemplificando: quer num casal em que ele é médico e ela professora, quer num casal em que ela é médica e ele professor, o casal toma a maioria das decisões de carreira baseando-se no pressuposto de que o emprego dele é o mais importante e que o dela é o mais gerível. Interessante, não?

Monday, August 04, 2008

Olhar para o céu e espantar-se

No 10º ano, tive a melhor professora de Filosofia do mundo. Do nome, só me lembro que se chamava Ana Maria. Sentava-se em cima da secretária com as pernas a bambolear, ou passeava-se entre as nossas mesas (coisa que mais nenhum professor fazia, não fosse cair da tripeça), com a descontracção que só uma imensa sabedoria e uma enorme paixão pelo ensino consegue proporcionar, enquanto nos abria os neurónios para o existencialismo ou o nihilismo, nos falava de Sartre, Nietzsche e Bertrand Russel e nos punha a nós a pensar, a falar e sobretudo a sentir. Lembro-me de ter pela primeira vez aquele contentamento do "é pá, eu já tinha pensado em algo parecido, que giro, isto dito assim faz todo o sentido, afinal há mais gente a pensar como eu" (o que numa cidade provinciana, tão cheia de dinheiro e superficialidade como vazia de intelecto, não era coisa de somenos importância). Nuns dias ia de bota de camurça com salto agulha, saia travada e maquilhagem, noutros ia de ténis e de jeans coçados. Até disso eu gostava nela.

Acho que de todos os seus ensinamentos, o meu preferido foi "é muito importante que nunca deixem de se espantar. Sabem quando vão na rua e passa um avião? Há pessoas que já nem levantam a cabeça para ver...mas já pensaram, que coisa maravilhosa!, vai ali em cima um avião...nunca percam a vontade de levantar a cabeça e continuar a espantar-se".

Ontem, da minha varanda, o pôr do sol liquefazia-se, de um rubro obsceno, miraculoso, atrás do templo hindú. A lua traçava um esbelto quarto crescente mesmo por cima, coisa que até a um céptico é impossível não despertar uma espécie de fé. E de súbito, da direita para a esquerda, foi piscando um avião. Fiquei a sonhar com o seu destino (daqui a quase-nada já irei dentro de um, também) e sorri, enquanto me lembrava da professora Ana Maria.

De estimação

O meu pai tem uma expressão, com imensa acutilância e graça, que circunscreve bem a fronteira entre o que se quer (ou não) tolerar: "toda a gente tem defeitos, mas uns aturam-se melhor do que outros".

Para com os pouquíssimos espécimes que, pela minha (ainda curta) vida fora, têm saltado definitivamente o cerco para o lado da acrimónia, tenho uma atitude de saudável e honesta reciprocidade, porque estou certa de que há que estimar tão bem os nossos parcos ódios como os nossos inúmeros amores.

Quando se comprou a aparelhagem lá para casa, o primeiro CD que oferecemos ao meu pai foi do Bob Dylan. Esse senhor, que como se sabe nunca foi de fazer jeitinhos a ninguém, não foi para mim o ídolo que representou para o meu progenitor, mas ficou-me na memória pela sua corrosiva "Positively 4th Street". Porque podia ter sido o meu pai a escrevê-lo.

"You got a lotta nerve
To say you are my friend
When I was down you just stood there grinning
You got a lotta nerve
To say you gota helping hand to lend
You just want to be on the side that's winning (...)
You see me on the street
You always act surprised
You say "how are you? good luck!"
But you don't mean it
When you know as well as me
You'd rather see me paralyzed
So why don't you just come out once, and scream it'?!"

Cultura variada em Agosto

Ao contário do mês passado, ando a dar conta das revistas que me caíram na caixa do correio no início deste Agosto, com um afinco equivalente ao das espadeiradas de Santiago nos mouros. Devorei a National Geographic sobre a China, maravilhada com as paisagens (Yunnan está-me no goto...) e com a análise sociológica dos conflitos entre milenarismo e mudança, entre tradição e obsolescência, entre gregarismo e individualismo, da maior sociedade de consumo emergente. No Courrier Internacional, impressionou-me a história de um repórter de guerra que se apaixonou por uma paramilitar colombiana (o final não foi feliz) e descobri que se vai a banhos na faixa de Gaza quase como no Algarve (os nadadores-salvadores prestam especial atenção às mulheres, que se banham vestidas, podendo por causa das roupas ensopadas ser arrastadas mais depressa para o fundo do mar). A Agenda Cultural de Lisboa transborda de interesse: dos passeios pedestres e temáticos pela cidade e por Monsanto e das aventuras da Ciência Viva, às múltiplas ofertas de jazz, passando pelo "CCB fora de si", não há para onde uma pessoa se vire. Aqui ficam três propostas, para lançar o repto:

DIZ-ME COMO A CHUVA
Teatro da Comuna, até 9 de Agosto
Cucha Carvalheiro e Isabel Medina juntam-se no Teatro da Comuna, em Lisboa, para um espectáculo sobre o amor, a fuga e a morte, presentes na escrita de Tennessee Williams. Até 9 de Agosto. A peça foi construída a partir do texto "Talk to me Like the Rain and Let me Listen", de Tennessee Williams, onde um homem e uma mulher contam as suas fugas, cumprindo o seu destino. Ao longo da peça, as duas actrizes vão-se transformando em personagens masculinas e femininas.
Preço: €12,5

GLOW
29 e 30/08/2008
Às 19h00 e 21h30, Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian

GLOW é um ensaio coreográfico com uma forte componente tecnológica. Sob o brilho (glow) de um sistema de localização sofisticado, um ser orgânico solitário sofre mutações e vai transitando da forma humana para estados inusitados, sensuais e grotescos. O espectáculo utiliza a tecnologia mais recente de vídeo interactivo para gerar em tempo real uma paisagem digital em reacção ao movimento do bailarino. Os gestos do corpo prolongam-se e, por sua vez, manipulam o universo vídeo envolvente. Como resultado, cada performance é irrepetível. CHUNKY MOVE é uma companhia de Melbourne, fundada em 1995 por Gideon Obarzanek, o seu director artístico. O trabalho da Chunky Move procura constantemente redefinir as possibilidades da dança contemporânea e as suas produções têm sido mundialmente aclamadas tanto pela crítica como pelo público. O espectáculo vai ser apresentado em duas sessões diárias, às 19h00 e 21h30. Preço: 5€

TABÚ
Novo circo, 1 a 31 de Agosto (excepto segundas-feiras), no CCB
Uma nave espacial no CCB e com ela o novo circo pela mão da prestigiada companhia inglesa NoFit State. Tabú é uma viagem de exploração no espaço e no tempo. É uma combinação entre circo, performance, música ao vivo e vídeo em que tudo acontece entre os actores e o público.
Preço: 18€

Friday, August 01, 2008

Próximo destino

Antes de se ir embora, a prima que me vagou o quarto deixou-me ração para gato na despensa. Ri-me à gargalhada.

Depois olhei para a cama que tinha sido dela, toda lisinha e arrumada e, num ímpeto, agarrei na lista de viagem e desatei a despejar-lhe em cima tudo o que ia riscando a eito: saco-cama, botas de trekking, protector solar factor 60, lanterna, bússola, champoos em miniatura, fato de banho, chinelos, passaporte, livros de lombada gorda para devorar em voos longos, ...

Destino: Amman.
Partida: 15 de Agosto.
Contagem decrescente.


Dueto com o Astor, ao som dos Snow Patrol

Ler um pedaço de letra dos Snow Patrol fez-me dedicar atenção ao álbum inteiro. E ontem soube-me bem ouvi-los, deitada no chão, olhos nos olhos do Astor.

Eu:
We'll do it all
Everything
On our own
We don't need
Anything
Or anyone

Ele:
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?

Eu:
I don't quite know
How to say
How I feel

Ele:
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?


Eu:
Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life
All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see

Thursday, July 31, 2008

Que bem que se está

no páteo (assim mesmo, à alfacinha de velha cepa) da minha amiga A.
E que petiscos, mamma mia! Grazie, bella!

3 boas sentenças

Todas de Kahlil Gibran, libanês:

"A maioria das pessoas que pede conselho aos outros já decidiu actuar como lhe apraz".

"Qualquer homem ama duas mulheres: a que criou na sua imaginação e aquela que ainda não nasceu."

"Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; por estranho que pareça, não sou grato a esses professores."

Como será que isto soa, em árabe?

Tuesday, July 29, 2008

Retina

São oito da noite (agora que o solstício já se cumpriu e voltou a haver noite) e num sétimo andar sobre o frenesim da Fontes Pereira de Melo, deitada e no silêncio possível que resiste para cá da janela, penso
que se as coisas são sempre iguais e só a forma de as ver é que as muda,
que se as coisas mudam sempre que mudamos a mirada,
então eu vou piscar os olhos as vezes que forem precisas.

Nocturno

Adoro ouvir Bernardo Sassetti. Tenho uma amiga que conhece uma rapariga a quem ele pediu em casamento (e que o recusou) e penso dela "grande tola". Depois lembro-me da Beatriz Batarda e acho que ele levou a melhor. Mas passando o fait divers: na contracapa do seu álbum "Ascent" há uma citação ímpar: "everybody´s life has some rain in it".

O contraste com a delicadeza e a melancolia do álbum, do músico e da frase não poderia ser maior, mas há dias transfigurei a citação para um devaneio privado: "everybody´s life has some Almodóvar in it". Li no Blitz que foi lançada de fresco uma colectânea das canções dos filmes dele, mas a primeira leva, totalmente pré-"Tudo sobre a minha mãe", já a tenho há muito. As ditas saltam-me da cartola em alturas estratégicas; são pirosas, pungentes e estupidamente desarmantes. Tenho 3 preferidas: a caribenha "Sali porque sali", a espanholíssima "Resistiré" e a jóia da coroa, "Puro teatro", cantada por uma senhora de uma enorme voz, amarga e sardónica, chamada La Lupe. Almodóvar sabe tudo o que há a saber sobre a tragicomédia das nossas vidas. Ouço, canto, abano-me, esgoto a humanidade indecente que há em mim.

Troco o CD.
Recosto-me. O piano pinga agora suavemente, elegante, o "Nocturno". Some rain comes over.

Thursday, July 24, 2008

Haja alguma notícia de jeito

"As cadeias de supermercados e hipermercados, que tenham mais de cinco lojas com uma área superior a 300 metros quadrados cada uma, passam a ser obrigadas a disponibilizar serviço de acompanhamento personalizado a pessoas com deficiências visuais. O diploma foi publicado em Diário da República. Além disso, por cada produto que for adquirido, os estabelecimentos têm que garantir a impressão de uma etiqueta em braille com informação como a data de validade, denominação e as características principais. Nenhum destes serviços deverão implicar qualquer custo financeiro para os beneficiários. Caso não cumpram a lei, as cadeias serão penalizadas com multa, que pode ir dos cinco aos quinze mil euros. Cabe à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fiscalizar a aplicação da lei."
(HiperSuper, 24 de Julho de 2008)

El carnaval del mundo

Saudades de um bom tango. Este era cantado pelo Gardel. Semicerro os olhos e desenho coreografias imaginárias num vasto salão vazio.

Sus ojos se cerraron y el mundo sigue andando,
su boca que era mia ya no me besa mas.
Se apagaron los ecos de su reir sonoro
y es cruel este silencio que me hace tanto mal...
Fue mia la piadosa dulzura de sus manos,
que dieron a mis penas caricias de bondad,
y ahora que la evoco hundido en mi quebranto,
las lagrimas trenzadas se niegan a brotar,
y no tengo el consuelo de poder llorar...

En vano yo alentaba febril una esperanza
clavo en mi carne viva sus garras el dolor,
y mientras en la calle, en loca algarabia
el carnaval del mundo gozaba y se reia
burlandose el destino me robo su amor...

Just because

O novo álbum dos Coldplay não me parece, até ao momento, nada de fantástico. Mas tem uma bela letra numa das canções:
"Just because I'm losing
Doesn't mean I'm lost
Doesn't mean I'll stop
Doesn't mean I will cross"

Wednesday, July 23, 2008

O mundo pode ser um lugar bonito

Recebi um email de uma aluna que deixou agora mesmo de o ser. A aluna, com mais idade do que a média dos seus colegas, já passou e teve boa nota.

A mensagem dela representa o tipo de mundo em que fui educada, o tipo de mundo em que acredito e o tipo de mundo que tudo farei para que se preserve.

"Boa tarde, estimada professora (...)
Apesar de já lhe ter manifestado o meu apreço pessoalmente, não queria deixar de lho dizer por escrito, porque, palavras leva-as o vento.
(...)
Esperei pelo final do ano (para não parecer "graxa" (detesto esse tipo de atitude)), para dizer às caríssimas professoras (...) que foi um previlégio para mim, encontrar professoras tão jovens com a dedicação, sabedoria, vocação e prazer em transmitir conhecimentos aliados a uma disponibilidade imensa como as senhoras.
Por todos estes motivos e ainda outros, quero demonstrar o meu apreço e agradecer a atenção que me dispensaram enquanto aluna com as dificuldades inerentes não só da minha vida profissional, como também de saúde e familiares (tenho um filho deficiente em casa).
Sei que enquanto alunos somos muito difíceis, pelo facto as minhas desculpas, pedindo-vos, por favor, não mudem, o Instituto tem que ter professores que possam marcar a diferença, porque se as Senhoras Professoras sabem reconhecer a dedicação e responsabilidade nos alunos, alguns há que também sabem reconhecer os professores que têm.
O meu muito OBRIGADO e boas férias
."

Monday, July 21, 2008

Gatekeeping

A notícia abaixo fez-me rir à gargalhada. Com efeito, a quantidade de gente que a Impresa anda a despedir (incluindo um número já arrepiante de amigos meus) até já deve dar para pagar um "spa" semanal a cada funcionário. Que, daqui a bocado, hão-de reduzir-se aos membros do clã Balsemão, pelo andar da carruagem. Lucrem à vontade, despeçam, indemnizem, o caraças, mas poupem-nos este chorrilho de hipocrisias!

Impresa aumenta 5% salários de funcionários
18 de Julho de 2008 (Meios & Publicidade)
A Impresa comunicou ontem aos funcionários do grupo que iria proceder a aumentos intercalares dos ordenados para fazer face “às grandes dificuldades que os recentes aumentos dos preços dos combustíveis e dos bens essenciais causam às famílias de menores rendimentos”. A medida, com efeito a partir de Julho, dirige-se aos trabalhadores do grupo com salários brutos até 1.500 euros, abrangendo segundo a nota interna, um universo de 389 pessoas, implicando um investimento superior a 200 mil euros até ao final do ano. Os aumentos terão um tecto máximo de 75 euros. A Impresa apresenta para a semana os resultados semestrais na próxima semana, mas os últimos números apresentam um prejuízo de 331 mil euros. Para o segundo semestre as previsões dos analistas são mais optimistas. Segundo uma nota de análise do Millennium bcp, citada pela Reuters, os lucros da Impresa deverão situar-se nos 8,6 milhões de euros neste segundo trimestre, o que representa uma subida de 13% face a período a igual período do ano passado.

Friday, July 18, 2008

Avó Cila


Avó, põe-te boa depressa e vem comigo passear, num domingo de manhã. Vem do Porto a Lisboa, deixa-me ser pequenina e não crescer nunca mais, avó, deixa-me não ter que tomar conta de ti, ter medo por ti, ter medo de te perder, também a ti. Avó, fica. Fica comigo.

Thursday, July 17, 2008

Gato

Hoje de manhã, o meu gato não estava deitado aos meus pés. Enquanto me despachava e tomava o pequeno-almoço, não apareceu. Passei pelo escritório para ir buscar a mala e a pasta e não estava aninhado no sofá.

Percebi que ia ter que fazer uma busca preventiva, antes de sair de casa, mais longa do que a do costume. Pacientemente, percorri todos os recantos do costume, todos os esconderijos de recurso (caixote de areia, atrás das louças da casa de banho, armários). No fim de refazer este percurso 3 vezes e de espreitar em cima dos armários e frigorífico e todos os outros absurdos que ainda restassem, percebi que o gato não estava em casa.

Antes de entrar em pânico, fui analisar os 11 patamares do prédio, um a um. Fui à garagem. Por fim, fui à rua, dei a volta ao quarteirão, perguntei no café. Ainda fui às casinhas do lixo.

O nó na garganta começou a estrangular-me. Ao telefone, a familiar que vive temporariamente lá em casa (e que tinha saído mais cedo que eu) jurava-me que não o tinha visto esgueirar-se quando saíra. Pedi-lhe para ver nas malas de viagem (outra artimanha possível). Não estava. Liguei ao padeiro, que viera pôr-me o pão à porta às 7 da manhã. Não o vira.

Desatei a chorar desbragadamente.

Afixei anúncios nos elevadores, nas entradas. Já lá iam os primeiros 45 minutos do emprego.
No meio do pranto, subi a casa para fazer mais anúncios de "Gato perdido, contacte por favor...".

Quando o telefone tocou com um nº que eu não conhecia, o coração começou a querer saltar-me do peito. A vozinha feminina perguntou: "É a vizinha?"...e eu acho que comecei logo a sorrir entre lágrimas. Estava no 2º Esquerdo, escondido entre cortinados e muito assustado. Fugira graças à incúria da minha inquilina e felizmente encontrara uma porta aberta antes de chegar à da rua. Abracei a vizinha e carreguei-o para casa como um tesouro.

Há apenas dois dias, perguntei à veterinária quantos anos podia durar um gato. "Uns 20", disse ela.

Monday, July 14, 2008

O Alive que já lá vai

Os Vampire Weekend são muito simpáticos e cumpriram bem a missão. Perdi as duas 1ªas músicas, depois de acotovelar todos os que me disputaram a entrada no recinto, de descobrir onde era o maldito Metro on Stage (basicamente, uma tenda de sauna) e depois fiquei até ao fim: pulou-se, cantou-se em coro, tribalizou-se devidamente. Boa 1ª impressão!

Encontrados metade dos amigos, impossibilitada a aquisição de qualquer líquido para empurrar o pão com chouriço, mesmo depois de esperar 15 minutos pelo 1º bem e apenas 1 minuto pelo 2º (nunca vi tanta ineficiência a servir cerveja or else), lá se voltou para a tenda claustrofóbica. Ouviu-se 4-5 músicas de MGMT, que se atrasaram obscenamente ao ponto de só aparecerem quando a vaia ameaçou implodir o recinto e que claramente não estavam em boa forma. A actuação deu vontade de dormir e/ou de lhes bater (fui no carro a tentar explicar à amiga que me acompanhou, enquanto a obrigava a ouvir o álbum, que aquilo era suposto ser dançável e tal!).

Fartei-me tanto que nem esperei por "Time to Pretend"; arrastámos outro amigo entretanto encontrado, rumámos ao palco principal e ainda se ouviu umas quantas músicas dos The National, que continuo a adorar...mas basicamente há bandas que não são para actuar ao ar livre e de dia, ponto final.

Não vi RATM, porque no fim de andar a pular com Gogol Bordello e The Hives (estes sim, os verdadeiros senhores do festival: aquele histrionismo delicioso!) já não tinha mesmo pedalada para mais (e também não sou assim a maior fã).

De resto, achei a organização do festival em si muito bem intencionada, mas com um resultado prático terrivelmente ineficaz: quase não consegui beber fosse o que fosse, tamanhas as filas e a lentidão de quem atendia; a tentativa de ir à casa de banho nos intervalos dos principais concertos raiou o motim; os 2 palcos eram tão longe um do outro que não havia explicação possível, enfim...lá nisso, Super Rock e Rock in Rio levam a palma, e é tudo.

Foi tudo bastante insólito (mas também, olhando para o resto da minha vida...e novidades?).


Para o meu amigo

Guardo apenas 2 sms no telemóvel. Um é da Corrida do Tejo 2007 a dizer-me que terminei os 10 kms em x tempo (quem me conhece sabe o que isso significa). O outro é do meu amigo RC, foi enviado num dia em que eu estava muito triste, em 2005, e deu-me força e carinho para continuar a acreditar e a vencer.
Hoje é a minha vez de dizer: estou cá contigo, sempre, para o que der e vier, meu amigo. Vai tudo correr bem, verás.

Wednesday, July 09, 2008

Fio da navalha

Espantoso como, sem querer, se tropeça no trecho de uma música de um álbum velho ouvido por acaso, e ele diz alto, em escassos segundos, uma coisa como esta (e que já não podemos fingir que não ouvimos):
"I gave a lot to you
I take a lot from you too
You slave a lot for me
Guess you could say I gave you my edge
But I can't pretend I don't need to defend some part of me from you
I know I've spent some time lying"

(Interpol, "The New")

Tuesday, July 08, 2008

Química

Alguém que conheci costumava dizer que tudo é um estado químico, até o amor. Usava portanto o argumento para não distinguir estupefacientes da serotonina e restantes produções "espontâneas" do nosso organismo, quanto ao seu grau de legitimidade para circular pelo complexo bio-emocional humano.

Os químicos, descobri, conseguem fazer muita coisa. Alterar os ritmos circadianos, fazer pensar como um homem (numa coisa de cada vez e pouco em geral), ver sempre o copo meio cheio em vez de meio vazio, falar pelos cotovelos, joelhos e todas as articulações que sobrevivam ao vulcão de euforia, etc.

Agora, quanto ao amor...
...j´hésite.

O que vai animando

A minha querida amiga Sacha (pronúncia dela) / Xaxa (pronúncia minha) vai casar-se! Fiquei radiante por ela! Se alguém merece ser muito, muito feliz, por ser o exemplo maior da tenacidade, coragem e bondade humanas, é ela. Será que é desta que me apanham à cotovelada pelo bouquet? ;)

Em paridade neste rol de qualidades está a minha amiga I., que ontem me mandou um belíssimo postal ilustrado de um cenário mágico que partilhámos nas férias do Carnaval. Devolvo-lhe em troca os melhores votos de tudo o que ela queira...desde que eu esteja lá de vez em quando ;) E parece que uma dessas vezes vai ser já em Agosto, com a ventura extra do confirmadíssimo 3º elemento daquele trio dinâmico que um belo dia se conheceu num avião a caminho de Marrocos, nos idos de 2002, e nunca mais parou!

A M. tem um novo desafio (tropical e político) pela frente: será decerto a mulher de força que sempre tem sido em mais este quebra-cabeças.

A todos os meus amigos: à nossa!

Silly season

A bem achada canção dos Pontos Negros sobre a rapariguinha do shopping revisitada (agora com o seu Ken) tem mais a ver com o livro "A Sociologia do Quotidiano" do sociólogo José Machado Pais do que à partida se poderia supôr. Só mesmo assim é que o intelecto ainda se vai divertindo na modorra estival.

Entretanto, este ano serei infiel ao Super Rock e irei trocá-lo pelo Alive. Vai implicar algum jogging entre palcos (MGMT e The National ao mesmo tempo?! Quem foi o sádico?!) mas promete, em grande.

Friday, July 04, 2008

Nesta semana que passou

Posso não ter feito nada de muito interessante na perspectiva hedonista do caro leitor.
Não li até ao fim nenhum livro (embora tenha comprado mais alguns), deixei acumular os números novos do Courrier Internacional, da National Geographic, da Marketeer, da Agenda Cultural de Lisboa e do Blitz em cima do sofá sem sequer abrir um que fosse, não descobri bandas musicais novas, não fui ao cinema, nem ao teatro, nem a exposições, não saí à noite, nem sequer comprei trapos novos e, com vergonha confesso, mal dei atenção ao gato.
Andei atafulhada em trabalho, corrigi dezenas de pontos, divulguei uns artigos que escrevi, planeei uma reconciliação com o manual do SPSS. Um tédio?

Fazendo o balanço...nada disso!
É Verão a sério. Com todas as suas cores, insinuações e promessas.
No final da tarde de 2ª feira passei a ponte (sem pinga de trânsito) para ir descobrir um bar maravilhoso em S. João da Caparica; areal vazio, mar liso, o pôr do sol mesmo à minha espera ainda todo redondo, antes de se desmanchar em borrão fulgurante. Fiquei uns minutos extasiada antes de entrar e abraçar o meu amigo que fazia anos. Somos amigos há tantos e sê-lo-emos por muitos mais. Adorei a festa dele, as conversas soltas com conhecidos e desconhecidos, adorei o luar que entretanto nos emoldurou enquanto lhe brindavamos. Que seja um grande ano, amigo João "Costas".
Na 4ª feira comovi-me com o nome de código "105" e tive um breve e feliz diálogo que me encheu esta nova e agradável serenidade de uma riqueza maior.
Ontem cheguei a casa e tinha um postal a sério, enviado num envelope a sério, com um selo a sério, de uma amiga que me dizia que, mesmo quando "desaparecia", gostava muito de mim. Sorri até nunca mais parar (sim, estou a sorrir agora).
Uma grande amiga foi entretanto promovida (well done, girl!) e talvez até venha comigo à Jordânia no Verão!
E amanhã vou espreitar os peixes ao Portinho da Arrábida, com amigas madrugadoras, e jantar mousse de chocolate do Luís e da Sandra ao jantar.

As pessoas felizes não têm nada de especial, não é verdade? ;)

Wednesday, June 25, 2008

No-zen attitude

Há quem não faça planos com medo da desilusão.
Há quem os faça por achar que sem ilusão não vive.

Fazer planos revela, mais do que esperança, vontade de instrumentar o futuro: fazer com que as coisas boas comecem mais cedo e acabem mais tarde do que aquilo que a vida planeou para elas.
Eu faço planos porque sou optimista, impaciente e um bocado mandona.

Monday, June 23, 2008

Até à meta

A abrir a Corrida da Luz, na noite do solstício de Verão (a mais curta do ano), há fogo de artifício. É um luxo complementar aquele de correr pelas ruas vazias de carros, ao lado dos bailaricos e das sardinhas que ainda restam na zona do Campo das Cebolas, pelo meio das lojas da Baixa, espreitando o Marquês enquanto se inflecte para a descida final. Ao quilómetro 9, um rapaz da organização grita "força! está quase!" e eu ainda consigo responder-lhe a rir: "depois disto, só espero que os brindes sejam bons!". Alguém me reconhece quando estou a regressar do Cais do Sodré, ainda viro a cabeça mas não consigo discernir quem é. Passo a meta e num ápice o entusiasmo, o esforço, a dor e a resistência somem-se na recordação. Não há medalha, mas enquanto volto sozinha para casa acalento uma íntima sensação de vitória.

Tuesday, June 17, 2008

Keep going

Outro filme cujas críticas desapontadas não consigo compreender. O Sexo e a Cidade, filme, não tem o mesmo grau de entretenimento nem a audácia que nos era familiar na série, mas também não é tão acéfalo nem xaroposo como se poderia temer. Aquilo que nele realmente desconcerta é a presença mais do que pontual do sofrimento. Há traições, abandonos, erros, ganhos de peso e envelhecimentos que custam a digerir, a perdoar e a aceitar. E no fim tudo acaba bem? Bom, no fim tudo continua...e nós por cá também.

Thursday, June 12, 2008

O que aliás me lembra

Uma velha canção de Sinnead O´Connor:

We used to go outwalking hand in hand
You told me all the bigthings you had planned
It wasn't long till all your dreams came true
Success put me in secondplace with you

You have no time to love me anymore
Since fame and fortune knocked up on our door
And I spend all my evenings all alone
Success has made a failure of our home

If we could share an evening now and then
I'm sure we'd find true happiness again
You never hold me like you used to do
Oh, it's funny what success has done to you

I never changed
I'm still the same
I never changed
Stop what you're saying
You're killing me
And am i not your girl?
Am i not your girl?...Am i not?

A medida do sucesso

Está na moda contratar consultoras para despedir pessoas. Uma das artimanhas consiste em atribuir maior pontuação a quem demonstrar maior inépcia familiar, afectiva e social. Veja-se o seguinte exemplo para constatar que aquilo que a Heindrick & Struggles, por exemplo, considera um excelente profissional, equivale, no senso comum que ainda nos reste, a premiar uma autêntica besta.
Nível 1 (o mais fraquito): "Limita-se a cumprir o seu horário de trabalho revelando, por norma, pouca ou nenhuma disponibilidade, independentemente das solicitações, exigências funcionais e problemas decorrentes da gestão da equipa. Raramente aproveita os tempos livres para procurar novas aprendizagens em áreas relacionadas com a sua função específica". Uma nódoa de ser humano, não é verdade?
Nível 3 (o assim-assim): "Cumpre as funções que lhe são solicitadas pelas chefias e costuma fazer sugestões que exijam esforço pessoal complementar e/ou disponibilidade total". Disponibilidade total ainda é pouco. Falta-lhe um bocadinho assim...
Nível 5 (o supra-sumo da caderneta de cromos): "Demonstra disponibilidade total para todo o tipo de funções, independentemente dos horários e do esforço pessoal envolvido. Sem que ninguém lhe peça, candidata-se a trabalhos que exigem grande esforço pessoal e familiar." Este nível de requisitos é, perguntam vocês, para se ser primeiro-ministro, director da AMI ou astronauta? Não, jovens amigos, é para um quadro médio, pago com um ordenado pouco mais que médio, numa empresa média-medíocre, poder manter o seu emprego.

Há coisas que metem nojo, não há?

Wednesday, June 11, 2008

O efeito especial

Não percebo porque dizem mal do novo "Indiana Jones". Nunca me passaria pela cabeça ser exigente com um filme destes. Continua absurdo, rocambolesco e histriónico como sempre foi: é o que se lhe pede. Entretém e faz-nos ter 15 anos. Missão cumprida.
Para os desatentos, há uma pérola existencialista no meio das deixas banais: "estamos na idade em que a vida deixa de nos dar coisas e começa a tirá-las". Que é um bocado como eu me sinto agora.

Monday, June 09, 2008

Na aldeia

O primo tamborilava distraidamente com as mãos nas rodas da cadeira, às vezes abanando-se como a uma criança no próprio berço. Porque as conversas são como as cerejas, a prima levou um quilo delas. Falaram de si mesmos um ao outro, sem factos nem novidades nem descrições nem pessoas nem sonhos nem segredos nem mágoas, só com ideias: ideias de si, ideias do mundo, ideias de uma vida que só existia no mundo das ideias. Filosofaram como dois adolescentes tornados anciãos. A sala obscurescia o primeiro calor do Verão. Do outro lado da estradita, a velha casa tão imóvel e silenciosa como no tempo em que os avós eram vivos. Se não se entrasse, era possível imaginar que ainda lá estavam, que depois do cheiro a maçãs na adega eles ainda perguntariam "quem é?" mal ouvissem ranger o prego que segurava a porta e carecia de artes de presdigitador para conceder passagem. A dois passos, já na descida, a tia atirava o neto pequenino ao ar, enquanto o tio sorria bonacheirão. O gato roçava-se na pernas e esgueirava-se pela horta, pejada de flores e pêssegos e morangos a fazerem-se vermelhos e ramagens de cebola e aipo e courgettes inchadas como odres. A mãe do pequeno ligava a saber se ele tinha comido a sopa. A tia suspirava da vida, para logo se desfazer a rir mal o garoto lhe acenava com uma nova momice. O milho fazia-se grande, toda a fecundidade do Verão e da terra arquejavam sensualmente. À noite, os grilos palravam sob as estrelas cálidas.

Friday, June 06, 2008

Análise de conteúdo

Gostava de saber qual a proporção de canções existentes no mundo que falam de amores fracassados, sobre o total daquelas que falam de amor em sentido lato e ainda sobre o total de canções tout court. Se há coisa que um amante tristonho não consegue é sentir-se só na sua condição.
No entanto, volta e meia, alguém trina, como o Sinatra: "once in a while (...) love´s been good to me". E tudo volta a valer a pena.

Hummm...






"Düsseldorf on the Rhine is the city of fashion, shopping, culture and lifestyle. The Königsallee is one of the most luxurious shoppers’ paradises in Europe."






Tuesday, June 03, 2008

Spend some time

As coisas que uma pessoa ouve às 7 da manhã e lhe parecem tão lúcidas.

How I wish you could see the potential, the potential of you and me It's like a book elegantly bound, but in a language that you can't read You gotta spend some time-love, you gotta spend some time with me And I know that you'll find-love, I will possess your heart. There are days when outside your window, I see my reflection as I slowly pass And I long for this mirrored perspective, when we'll be lovers, lovers at last You gotta spend some time-love, you gotta spend some time with me And I know that you'll find-love, I will possess your heart. I will possess your heart. You reject my advances and desperate plea I won't let you, let me down so easily, so easily You gotta spend some time-love, you gotta spend some time with me And I know that you'll find-love, I will possess your heart.
(Death Cab for Cutie)

Monday, June 02, 2008

O céu sobre a terra, nós sobre a falésia


O fim de semana "em família" da Papaléguas, em Aljezur, foi fantástico! Fez bem aos 5 sentidos e a todos aqueles que o coração alberga para além desses.

Obrigada, céu azul, mar profundo, terra de esteva, amigos sinceros e amor doce. Fui feliz por terras de Barlavento.

Tuesday, May 27, 2008

"Dava dez anos de vida para te ver voltar."
(José Cid)

My Blueberry Nights


Que filme belíssimo: toda a estética costumeira de Wong Kar Wai (néons, veículos, sol ofegante a raiar a noite negra), um argumento enfeitiçante, belezas judias (La Weisz, La Portman), uma surpreendente Norah Jones (que representa muito melhor do que canta), um Jude Law a fazer pela primeira vez de ser humano decente, os personagens mais solitários e perdidos do mundo. E tal como na caixa de Pandora, afinal havia esperança. E a ingenuidade ainda é um trunfo.

Monday, May 26, 2008

Entre Sila e Caribdis

É um desafio revisitar o passado quando o presente titubeia e o futuro se demora. Quando o contraponto é débil, o passado pode temivelmente agigantar-se onde só deveria encolher-se e regurgitar em vez de se dissolver.
No próximo fim de semana irei saber como é, sem rede, nem muletas, nem azedume.

Fasquia

As pessoas que já foram muito felizes têm a mesma limitação das pessoas que já foram muito ricas: depois disso tudo lhes parece pouco, tornam-se ingratas para com as pequenas fortunas e suspiram por enormes riquezas que em nenhum lado se vislumbra que possam reaparecer.

Win-win

Havia um tio remoto na família que costumava dizer que, quando alguém nos oferece alguma coisa, devemos sempre aceitar - porque quem nos oferece de boa mente fica contente por isso, e quem oferece de má mente fica chateado e é bem feito.

Tenho estado cá a pensar que a mesma filosofia se aplica airosamente ao dar: quando queremos oferecer alguma coisa, devemos sempre fazê-lo, porque quem quer receber fica contente e quem não quer fica chateado e, lá está, também é bem feito.

Friday, May 16, 2008

Boas pequenas surpresas

Há dias furei um pneu e foi um aluno que mo trocou, numa faculdade onde todos pareciam engravatados inúteis para as coisas práticas da vida (dos quais eu era a mais inepta, salto fino e saia travada a fazerem-me sentir ridícula ante aquele pedaço de borracha que tinha acabado de desistir da vida). Lembrei-me da história do "sábio" que atazana sem cessar um pobre e simpático coitado, colocando-lhe perguntas difíceis e chamando-lhe ignorante quando constata a ausência de respostas. Iam caminhando à beira-rio, o sábio cai ao rio e o amável insultado salva o sábio. E fala enfim: "O senhor sábio sabe muitas coisas; mas não sabe nadar e eu sei". Também eu posso saber muita coisa de marketing mas não sei mudar um pneu sozinha; já o meu aluno E. não só sabe mudar um pneu como, se tudo correr bem, saberá bastante de marketing dentro de alguns anos.

Ainda na sequência da aventura do pneu, há aqueles sítios onde fecham a porta um minuto antes do horário de encerramento e há aqueles onde se atende clientes desesperados já pela hora de jantar adentro sem se olhar ao relógio. Em Odivelas há um sítio assim: numa cadeia americana chamada Midas, dois portugueses muito amáveis desenrascaram uma tipa às avessas com a sorte, tornando-lhe o final de dia menos inglório. Abençoados sejam.

Sempre achei que um dos meus vizinhos era profundamente antipático porque não respondia aos "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" que lhe dirigiam. Neste momento esse vizinho coadjuva-me na função de administradora de condomínio. Tem sido simpatiquíssimo. E apercebo-me agora de que ele é bastante surdo.

Os gajos que não têm ar de pessoas normais

Já tardava a apreciação do concerto FABULOSO do The National no passado domingo na Aula Magna, mas ele resume-se a pouco depois de esgotados os adjectivos para aquela prestação FENOMENAL: neles, a melancolia é mais elegante, mais negra, mais retorcida, mais pungente, mais cruel, mais devocional do que em qualquer outra banda. E o senhor-da-bela-voz-grave grita que nem um desalmado quando menos se espera, a provar que há ali uma alma sem compostura, sem previsibilidade, sem freios. Felizmente parecem uma banda bem estranha - porque os grandes músicos/grandes poetas nunca devem ser pessoas com ar normal. Que seria de nós sem eles?

Wednesday, May 14, 2008

Reset

Os olhos piscam. O mundo esvai-se. O ser adoça-se, enquanto se some num vácuo desconhecido. As últimas memórias esvoaçam, confusas, rodopiando num derradeiro ciclone. Será que todas as tuas horas insones poderão ser agora a troca das noites em branco de outrém por ti, durante os anos em que viveste sem o adivinhar? Poderão as discussões que travaste ter contrapesado os sorrisos que te distribuíram? Terá havido, para cada ferro de desespero, uma faúlha de esperança a redimir-te da inutilidade? Não vais saber. A tua consciência apaga-se e perde-se dentro das tuas pupilas.

Acordas. Tens faróis à frente, virados para ti. Sentes medo. Estás em contramão. Fechas outra vez os olhos, agora com força.

Mas o destino esquece-se de ti. Vives. Está tudo bem.
A vida recomeça.

Monday, May 12, 2008

O dilúvio

Dedico esta pequena ficção à Sara, que ainda só tem um mês mas a quem um dia espero poder ler com ela ao meu colo. Se tudo correr como os pais e eu sonhamos, ela poderá crescer a acreditar que o amor é a coisa mais importante da vida.

É como lhe digo, minha senhora”, desanimava o canalizador, coçando a cabeça de estupefacção perante tal coisa, consternado ante aquela humilhação da Física que lhe derrubava o orgulho profissional. “Isto é mesmo defeito de origem, não tem conserto. Agora só um novo. Tenho muita pena, minha senhora”. “É menina”, indignava-se ela surdamente, sem saber o que fazer aquele dilúvio embaraçoso, que em nenhum lugar ou circunstância a poupava. As pessoas olhavam-na desconfiadas, a princípio, e repugnadas, depois. Como ela desejava poder estancar aquilo. O canalizador lembrou-se então: “Só se a senhora quiser experimentar pôr aí uma pedra grande, pesada, assim como se faz com os autoclismos. Talvez assim consiga que isso não saia assim dessa maneira, não sei...”.

Ela experimentou. Arranjou uma pedra enorme, polida e depositou-a com cuidado no fundo do coração. Aos poucos, o fluxo morno e viscoso, que dele saía desprositadamente há anos, abrandou, até parar completamente. Deixou de salpicar as pessoas de amor inoportuno, de as perturbar com aquela generosidade absurda. Conseguira: amordaçara o coração. Podia viver agora como toda a gente.

Um dia, porém, na rua, sentiu um sobressalto. Com uma convulsão medonha, acompanhada de um jorro irreprimível, viu o calhau sair-lhe cuspido do peito e ir bater num homem que passava na rua. O homem, muito atordoado, levou a mão à cabeça e balbuciou “mas então?...”. Ruborizada, ela afobava-se em justificações: “o senhor desculpe, mas é que eu tinha uma pedra no coração, para ver se ele secava, só que parece que hoje ele não aguentou mais e precisou de deitar tudo cá para fora outra vez...não há mesmo remédio para isto...”. “Uma pedra no coração?”, incredulizava-se ele. “Mas isso devia doer-lhe muito”. “Um bocadinho”, reconheceu ela. Ele endireitou-se, esqueceu-se de afagar a cabeça dorida, olhou-a atentamente e respondeu: “ninguém devia ser obrigado a andar com pedras no coração, menina.” Viu-a alagada como uma parturiente e calada de frustração. Colocou-lhe o casaco à volta, tomou-lhe o braço e começou a andar: “venha, que ainda se constipa”.

“When all this nonsense is over”

O Paciente Inglês é o filme da minha vida. Bastar-lhe-ia, para isso, logo a primeira cena, em que um homem queimado me catapulta de imediato, com uma dor realmente física, para a recordação de ver o meu pai em semelhante estado no Hospital de Coimbra. Além disso, o filme tece-se em torno da paixão e da perda, dois temas muito meus e tratados à maneira dos meus. Há inúmeros momentos profundamente significantes de que nele me recordo. Um dos possíveis é aquele em que, preparando-se para se separarem, Ralph Fiennes diz a Kristin Scott-Thomas: “ainda não sinto a tua falta”. Com os olhos doridos e altivos que só um amor imensamente trágico consegue matizar daquela maneira, ela responde somente: “sentirás…sentirás”.

Livros do momento

Cada um a seu modo, “A Ilha dos Pinguins” de Anatole France e “Luz em Agosto” de William Faulkner (curiosamente, ambos nobelizados) são de uma crítica social mordaz. O primeiro descreve as consequências de um embaraço burocrático de Deus, que se viu obrigado pela cegueira de um santo homem seu acólito a conceder aos pinguins (baptizados como se homens fossem) estatuto moral de humanos. A história não lhe correu melhor a eles do que à humanidade. O livro é impiedoso, mas permite-nos o distanciamento que deixa soltar uma gargalhada de quando em vez. No segundo caso, temos o estigma do racismo no centro de um rol de complexas crueldades psíquicas e sociais. O ambiente, de uma América profunda dissecada sem delicadezas, é claustrofóbico e incomodativo. Duas obras-primas.

Friday, May 09, 2008

The mood of love

Ele era louco por ela. Ela nem tanto. Ele escrevia-lhe cartas, suportava-lhe as desculpas para não se encontrarem, gravava-lhe música, enviava-lhe presentes, dançava slows à frente dos amigos quando ela acedia a ir dançar com ele, esperava-a à saída do edifício que o mantinha longe dela durante o dia, só na esperança dos parcos minutos em que se viam e trocavam palavras e beijos rápidos. Ele era bonito, popular e ela sentia-se lisonjeada. Quando ele lhe pediu maior entrega e ela não encontrou, no fundo do coração, húmus para poder fazer medrar aquele afecto, esquivou-se numa cobardia: "Talvez se dessemos um tempo...". Numa expressão que nunca antes ela lhe tinha visto, ele respondeu com dignidade e secura: "Eu não sou a prazo". A partir daí, ela foi reparando numa curiosa lei da vida: a pessoa que mais se entrega e que parece a mais dependente é quase sempre a que termina a relação. Daí que, ao contrário do que diz o ressabiado senso comum, amar não seja tão perigoso como se diz.

Com ternura e com afecto

Vi ao acaso fotografias do México e lembrei-me da canção do Chico: "Na fotografia, estamos felizes (...) é desconcertante rever o grande amor (...) mas quando me lembro, são anos dourados". De azul sobre ouro (no coração), aqui estava eu, com ar que quem era feliz para o resto da vida.

Wednesday, May 07, 2008

História de uma tarde de Outono em 2004

Andei a arrumar emails e descobri uma coisa que escrevi há uns anos.

"Diz-se muita coisa sobre as pessoas.
Por exemplo.
Eu agora trabalho numa empresa onde faço um trabalho à semelhança do de Pilatos, uma vez que a seguir lavo dali as minhas mãos. Dedico-me a estudar as pessoas, em particular os jovens, e os senhores das decisões que façam o que quiserem com isso. Não serei eu quem impinja açúcar, aromas e dióxido de carbono à presa escolhida - eu só tento saber aquilo de que eles gostam, e deixo a outros a tarefa de os obrigar a gostar seja do que for.

Do que tenho visto, há inúmeros estudos a desacreditar qualquer visão positiva que se possa ter dos jovens hoje em dia e das pessoas em geral. Que as pessoas não querem ser felizes, só mostrar que são felizes. Que não querem ser inteligentes em termos de conhecimento mas apenas de postura. Que não querem relacionar-se entre si, só querem ter "contactos". Dito assim, parece um mundo muito desinteressante para se viver.

Pois eu acho que há anjos em todo o lado.

Faz alguns dias, num sábado à tarde do esplêndido mês de Outubro em Lisboa, pela zona do Chiado, que por esta altura cheira irresistivelmente a castanhas e às primeiras iluminações de Natal, havia uma enorme multidão a borboletejar pelas ruas.

O largo do Carmo ainda tinha esplanadas de cor solarenga, e eu nunca tinha visitado o convento. A convite do meu amigo Luís, acabei por descobrir que no Museu Arquelógico havia múmias incas...e eu que tinha ido tão longe.

Dali fomos para o Chá do Carmo, que é um sítio encantador onde nos conseguimos sentir, no que isso tem de bom, uns velhinhos que por ali tivessem vivido a vida toda e sempre e regularmente, em cada visita, sejam tão acarinhados que se sintam quase em casa. No Outono, é um sítio indispensável, tanto como as folhas caídas nos passeios.

O empregado de mesa é um mulato apressado, muito cortês, que nos seus bons dias sorri delicadamente e nos faz sentir uns velhotes prezados. Naquele dia, o seu sorriso estava pronto, e trouxe-nos um chá abaunilhado, denso e rico, da China, uns scones fumegantes e uma suculenta torta de marmelada. Só por isso já se poderia ter chamado anjo à cozinheira.

A seguir, a senhora que partiu uma fatia de torta para o meu namorado, que não pudera ir lanchar, avantajou o pedaço enquanto me olhava cumplicemente, e pelo brilho dos seus olhos senti-me grata.

Já saíamos, confortados e aquecidos, quando um rapaz, daqueles com aspecto artístico (que é o nome que se dá a jovens de ar irreverente, cabelo cortado em pontas soltas, vestuário à filme francês, e um desleixo clean muito em moda nos grupos intelectuais que por vezes pontilham certos sítios da capital - e o Chá do Carmo é um deles), veio ter connosco a correr estendendo-me um saco que eu tinha deixado esquecido debaixo da mesa. Sorria-me, e enquanto lhe agradeci e recolhi o embrulho, pensei para comigo com ironia que devia aquele ser um dos jovens de que se diz que não têm maneiras nem querem ser felizes nem relacionar-se com os outros. Os outros...os outros não sabem nada.

Caía a tarde e descemos, Rua do Alecrim abaixo, com um azul de pré-luar do Tejo a esvaír-se, sob os guindastes velhos da Lisnave, até ao Cais do Sodré, e dentro das ruelas mas sórdidas era onde eu tinha o carro, porque parecera naquela tarde que ninguém ali quisera estacionar.

O Luís despedia-se à sua maneira, que é como quem diz com conversas intermináveis e promessas de telefonar que nunca cumpre; parada numa esquina, uma mulher fitava-me, sem maldade nem inveja, somente com o pasmo calado de nós por ali estarmos sem ar de fauna daquele género e como se tacitamente me perguntasse qual era a diferença entre mim e ela.

Foram estas parcas pessoas que povoaram aquela minha tarde, mas é disto e de outras miudezas que se faz o meu amor pela cidade - conquanto haja sol, liberdade e gente a palpitar pelas ruas.

Há imensos anjos espalhados por aí e pelos nossos dias. Cintilam, ao acaso, no laranja do crepúsculo, e sorriem-nos, amparam-nos, falam-nos ou simplesmente olham-nos do modo que precisamos naquele momento.

E há mais anjos no Outono, numa tarde em Lisboa, do que se possa julgar. Acreditem."

Mundo prioritário


Quando a melancolia se espalha nas veias como um veneno familiar e insidioso, dou largas ao sonho e vou pelo mundo fora. Como sou Capricórnio e muito planeadinha, dedico-me a imaginar as próximas pegadas. Espero pelo menos chegar à Àsia Menor antes da devastação.


Fatal

Falhei mais um Indie Lisboa, mas este ano não perco o FATAL. O programa é sumarento: http://www.ul.pt/pls/portal/docs/1/171570.PDF

E para o ano, ah, para o ano é que vai ser...as minhas semanas serão os vossos fins de semana e irei a tudo, tudo, tudo!

Tuesday, May 06, 2008

A seu tempo

Iam sempre no mesmo autocarro, da escola para casa. Começaram a falar por casualidade e passaram a sentar-se juntos. Falavam muito, tanto quanto se pode falar muito em 20 minutos de solavancos e chiares de carripana velha. Ele era sereno, correcto, tinha a voz mansa e a palavra cheia de siso. Ela gostava dele. Ele sorria. Ao fim de alguns meses, ele decidiu-se enfim a informá-la, sempre com delicadeza, de que o sentimento que percebia nela não era correspondido. “A vida não é como nós queremos”, sentenciou ele salomonicamente. Ela ficou varada, quase mais por ele ter notado do que por ele não a querer. Continuaram a falar no autocarro.
Uns tempos mais tarde, calhou ele pedir-lhe emprestado um dicionário de francês. Ficou com ele durante meses. Já sarada e a precisar de fazer uma tradução, ela telefonou-lhe a pedir o dicionário de volta. Ele apressou-se em desculpas e prometeu devolver-lhe o dicionário. “Não quero que fiques chateada comigo”, disse com a sua voz sempre melíflua. E a ela, então, não lhe ocorreu melhor para responder do que um sincero “pois é; mas a vida não é como nós queremos”.

Monday, May 05, 2008

Sem modernices

Não há palavras escritas que valham a voz ou o abraço.

Tuesday, April 29, 2008

Se não fores por aí, vem antes por aqui

Pensa melhor.
Não, não penses tanto.
Sê forte.
Não sejas, não vais sair viva desta vida seja como for.
Lembra-te de ti.
Lembra-te que não és ninguém sem os outros.
Sabes que tens razão.
Sabes que o coração não tem razões, muito menos as que ainda desconhece.
O importante é fazer a coisa certa.
O importante é gostar do que se faz.
A vida ensina-nos que não vale a pena.
A morte torna-nos livres para que tudo valha a pena.
À primeira todos caem, à segunda só cai quem quer.
Mas dizem que à terceira é que é de vez.
Corta.
Perdoa.
Protege-te.
Dá-te.
Não sofras mais.
Não sofras mais.
Não penses tanto!
Vá, pensa melhor...

Out Jazz

Para desintoxicar da claustrofobia e da cretinice da clientela do Maxime, gentalha cinemática que na passada madrugada do 25 de Abril reduziu o verdadeiro artista JP Simões a um fio de voz (agridoce), aqui vai uma proposta ao ar livre:

"No domingo, dia 4 de Maio, inicia-se a 2ª Edição do Pleno Out Jazz, evento que leva as novas tendências da musica jazz aos jardins de Lisboa. Serão cinco meses e cinco jardins que de Maio a Setembro os fins de tarde de domingo vão ter concertos de jazz gratuitos a partir das 17 horas, seguidos por um Dj set das 19 horas até ao anoitecer. Por Belém, Campo Grande, Parque Eduardo VII e jardim da Estrela vão passar nomes como Tora Tora Big Band, Maria João e Mário Laginha, Vânia Fernandes e On Dixie, numa acção patrocinada pela Pleno."

Thursday, April 24, 2008

Sobre o tema mais velho do mundo

Ontem saiu numa revista um artigo, tema de capa, que perguntava "Quantos parceiros já teve?". O artigo concluía que, quando instigados a responder, os homens tendiam a multiplicar as ocorrências e as mulheres a dividi-las, possivelmente porque enquanto os primeiros associavam os feitos à vaidade, as segundas mais depressa se sentiam alvo de julgamento por leviandade. Não deixa de ser curioso que a colecção de experiências sexuais possa ser tida, para "os homens" como um rol de sucessos e para "as mulheres" como um somatório de fracassos. Havia uma delas que dizia algo como "o número de pessoas com quem dormi é o resultado de não ter sido feliz com nenhuma". Mas verdade, verdadinha, é que em nenhum jantar de mulheres esta reflexão sorumbática ensombra as listagens, os elencos e as classificações que se esgrimem e comparam entre gargalhadas. Sim, as mulheres também podem ser muito carroceiras...

No meu último aniversário, ofereceram-me a série "The L Word", rotulada como lesbian-chic. Não consigo gostar daquilo. As personagens, sem densidade, vivem num mundo sexualmente agressivo, fútil e competitivo. É como se aquelas mulheres fossem o pior dos jargões que usualmente atribuímos aos homens. Ora, eu cá acreditava que uma lésbica não queria ser um homem. Estarei enganada? Na verdade, só tenho amigos gays e esses são infinitamente melhores pessoas do que aquele bando de histéricas.

Tuesday, April 22, 2008

Do amor dos Homens

A celebérrima Epístola de S. Paulo aos Coríntios, tartamudeada ad nauseum nos casamentos menos imaginativos, reza particularmente que "o Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha."

S. Paulo (que, tendo sido um grande pecador pelos cânones da igreja que viria a representar, não poderia saber tão pouco da natureza humana) estaria decerto a conferir ao Amor uma dimensão projeccional e aspiracional nesta sua prelecção.
Desde então, todos esperamos demais do Amor. Ora, sendo o Amor tão humano quanto o é, equacione-se o que vale mais: o Amor excelente e intocável que jamais passará de mito, ou o Amor imperfeito, desastrado e sofredor de todos nós, que nos acompanhará na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias da nossa vida.

Thursday, April 17, 2008

Diz-me quando, quando, quando

A frase mais usada de entre as minhas deixas feitas tem sido "quando acabar o doutoramento...".
Nessa altura, segundo a minha convicta profecia, tudo acontecerá. Serão reveladas fotografias, publicados relatos de viagem inacabados, palmilhados passeios ignotos, conhecidos bares e restaurantes novos, experimentadas novas danças, melhoradas futuras aulas, escritos uma série de livros e artigos, acarinhados projectos de voluntariado, vividos novos amores, acalentados outros futuros, guardada na gaveta toda esta pressa de passar pela vida sem muito olhar.

Validade

Ontem fiquei a olhar para o meu telemóvel com algum respeito. Vai fazer dois anos irrepreensíveis e tem já uma longevidade maior do que grande parte dos afectos da minha vida.

Wednesday, April 16, 2008

Em repeat, ex-aequo

Os The National são provavelmente a melhor coisa que aconteceu à pop nos últimos muitos anos. E "Gospel" é séria candidata à mais bela das suas músicas.
Por cá, a melhor voz masculina nacional, a de JP Simões, aparece agora em dueto com uma melodia inultrapassável de Rodrigo Leão. Ainda por cima a causa é boa: façam o donativo em www.encontrarse.pt e digam-me quando conseguirem parar de trauteá-la, quando cessarem de ser embalados pela sua melancolia, pela sua doçura, pelo veludo intimista da sua atmosfera.

Friday, April 11, 2008

Como se estraga uma casa

Há dois anos, a festa da FHM no Convento do Beato tornou-se um ícone: espaço elegante, vestidos de noite a sério, boa música e aquecimento.
Ontem, o cenário havia sido tranformado em armazém, estava mais frio lá dentro do que na rua (na noite mais fria desta Primavera temperamental), os jeans coçados faziam a festa parecer associativa de bairro, quem levava um trapinho melhor não ousou tirar o sobretudo e todo o ambiente ressumava ao pior do tuning.
Foi como na história da Cinderela, mas eu que vim embora antes da meia noite garanto que ainda antes disso já só havia abóboras e socas.

Monday, April 07, 2008

À procura desta música

No sábado de manhã, uma melancólica e generosa programação da Radar fez entrar esta música pela segunda vez na minha vida. Não sabia quem era o artista, não sabia o título, desesperei quando a melodia se me desvaneceu da cabeça.
Mas ontem, enquanto a Serra da Arrábida encharcava os passeantes dos cheiros profusos da sua melhor Primavera, a música ressurgiu, e ocupou-me o resto do dia. O único denominador comum com o cenário era apenas uma flor, uma lindíssima flor.


Richard Hawley - Cole's Corner

Hold back the night from us
Cherish the light for us
Don't let the shadows hold back the dawn

Cold city lights glowing
The traffic of life is flowing
All over the rivers there none into dark

I'm going downtown where there's music
I'm going where voices fill the air
Maybe there’s someone waitin' for me
With a smile and a flower in her hair

I'm going downtown where there's people
My loneliness hangs in the air
No one there will be waitin' for me
No smile, no flower, nowhere.

Hold back the night.

Thursday, April 03, 2008

Gostar da lembrança

Pela 3ª vez em Portugal, os Editors ("a banda que não dá maus concertos") ontem começaram a descer na curva. Embora sendo um bocado como sexo e pizza (mesmo quando são menos bons, continuam a ser muito bons), para quem os viu e quem os vê, depois de um Super Rock estreante e de um Restelo consagrante, a sensação é de que o grande prodígio de ontem à noite foi a combinação da memória pessoal com um excelente público. O vocalista, usualmente um animal de palco, estava ontem muito apagado; a banda parecia desavinda e cada um tocava no seu canto; por fim, a ideia asinina da organização de colocar as colunas apenas nos extremos do palco e a 47 metros do solo fez com que para se ouvir alguma coisa tivesse que se estar bem lá atrás. Não que isso resultasse mal: à frente estavam teenagers histéricos (cujas vozes esganiçadas apagavam completamente o débil fio de voz que ali se conseguia apanhar, e que falavam e atendiam telefones como se estivessem na esplanada); atrás, estavam os trintões que cantavam e pulavam ao ritmo certo da música, a voz magnífica do vocalista ouvia-se com dignidade, e melhor que tudo, não se ficava desiludido com a pouca entrega dele no palco porque quase não se via...
"Come on, now, you knew you were lost, but you carried on, anyway."

Wednesday, April 02, 2008

Do you like my tight jeans?

Há duas coisas com que a pessoa se sente logo outra: saltos altos e jeans bem justos. Os primeiros sobejam-me, mas os últimos estavam em déficit depois de um emagrecimento para lá do desejado. Por isso, ontem comprei dois pares. Bem justos. Que saudades!

Monday, March 31, 2008


Sensibilidade e bom senso

Também há mais ou menos 12 anos (deve ser um daqueles ciclos astrológicos importantes de que falam os entendidos), uma rapariga foi a uma entrevista de emprego, numa grande instituição de crédito mundial. Passou a fase da entrevista de grupo e reuniu-se individualmente com o possível futuro chefe. Este era um tipo novo, de cabelo claro muito curtinho, postura e coloração facial Red Bull. Apresentou-se como sendo alguém que gostava tanto daquilo que fazia que até a mulher lhe dizia que ele gostava mais daquilo do que do filho que ia nascer. She pitied him immediately. A entrevista correu bem, até à derradeira pergunta: "Se algum dos seus colaboradores cometesse um erro gravíssimo, que acarretaria um prejuízo de milhões, o que é que faria?". Ela pensou uns segundos e respondeu: "Iria averiguar o que esteve na origem do erro, e se verificasse que a pessoa tinha sido cuidadosa mas mesmo assim tivesse sido um lapso não intencional, perdoar-lhe-ia". "Perdoaria um erro de milhões?", ripostou ele incrédulo. "Sim", disse ela. "Porque uma pessoa que errou e foi perdoada, no futuro será provavelmente mais empenhada, mais atenta, e por estar grata, muito mais motivada". Ele abanou a cabeça, consternado. Ela sorriu. Não queria aquele emprego.

Fábrica dos Sonhos

Em Xabregas há um "centro cultural" com encanto. Onde havia uma fábrica de armamento, agora há uma fábrica de sonhos. E na fábrica dos sonhos, já cantava o artista, podes ser quem tu queres, ninguém te leva a mal.
Há 3 bares acolhedores, uma bela livraria, salas misteriosas com exposições, aulas de sapateado (e outras), uma música de piano que vem de uma porta fechada. Os empregados são afáveis e têm "imensos chás". Há intelectuais, crianças, estrangeiros e de vez em quando, gente normal.

Dois quarteirões ao lado, numa sociedade recreativa de truz, dançava-se o bailarico vespertino com lamés e sapatos engraxados a rigor.

Xabregas pode bem ser a next big thing.

Friday, March 28, 2008

Em Belém

Ontem, depois de aviar uma pita shoarma crocante vegetariana com a minha amiga Anabela, fui ver uma peça de teatro amador ao Centro Cultural da Casa Pia. Um texto de estrutura simples, imaginativo e fluido, actores compenetrados e personagens patuscas, trouxeram boa disposição ao final do dia dos amigos e conhecidos do elenco, ainda em farpelas de trabalho, que enchiam a plateia. Parabéns ao Oliveira & sus muchachos!

Thursday, March 27, 2008

Peluche

Há mais de 12 anos, uma rapariga zangou-se com o namorado porque ele tinha dito que a colega de casa dela era mais bonita do que ela.
No dia seguinte, a senhoria da casa onde ela vivia, num quarto alugado, chamou-a com o seu sorriso de velhota. Ele esperava à entrada com um peluche gigantesco debaixo do braço para lhe dar. Ele nunca fora de dar peluches. Ele sempre fora demasiado forreta para oferecer fosse o que fosse com aquele tamanho. Ele correra a cidade toda à procura do peluche que representasse o peculiar animal que ele lhe tinha atribuído como alcunha (como deve ter desejado ter-lhe antes chamado ursinha, tão mais fácil de encontrar!). Vinha esbaforido, suado, envergonhado.
Ele saíra do seu casulo de conforto, expusera-se ao ridículo e ali estava, pedindo perdão.
E ela perdoou-lhe.
Não viveram felizes para sempre, mas ela ainda guarda o peluche e ele ainda guarda a recordação do que foi capaz de fazer por amor.

Os garotos propaganda

Ontem os suecos da nova música do anúncio da Optimus foram tocar à Aula Magna.
(A Optimus parece empenhada em promover concertos value-for-money, porque antes dos aguardados ainda se ouviu o estafado Bruno Nogueira com as rábulas do costume, e um concerto simpático mas ligeiramente soporífero da pernilonga Red Shoes.)
Desengonçados e ligeiramente caricatos, eram 4 rapazes e 1 rapariga, cujo tipo físico ia do mendigo desdentado (com barrete sebento e tudo) ao lavradeirão de camisa aos quadrados, com um betinho de caracóis e um baterista careca pelo meio, acabando na lourinha que calçava sandálias robustas com meias. Mas assim que abriram as goelas e os instrumentos (que não eram os deles, porque esses estavam algures no aeroporto de Milão), mostraram que sabiam da música como ninguém.
As parecenças com os Cure ficaram para coincidência; tudo o resto era deles, e mesmo deles - voz perfeita, boas melodias, pop escorreita, energia a rodos (que pena o público tão frio e tão sentado).
No final do 1º acto, o vocalista irrompeu do palco e desatou a correr em frente, por cima das cadeiras das doutorais. Merecia uma multidão que o erguesse no ar, mas só dois garotos possuídos lhes faziam as honras (é o mal de encher concertos com convidados). A turbamulta já eufórica estava toda cá atrás, tolhida pela barreira de separação.
Melhores do que no anúncio, digo-vos eu: Shout Out Louds.

Wednesday, March 26, 2008

Decidam-se

De acordo com uma teoria, pessoas com alta auto-estima sofrem mais desilusões amorosas do que pessoas com baixa auto-estima, porque se intrigam e indignam mais com o facto de alguém poder manifestar desinteresse ou desamor por elas.
Já nem ter auto-estima compensa?

Ser impopular

  • Acordar cedo.
  • Gostar pouco de sair à noite.
  • Não fumar ganzas.
  • Desdenhar das marcas.
  • Nunca ter jogado Playstation.
  • Ignorar os gadgets.
  • Gostar de pessoas mais do que de sexo.
  • Ter prazer em comer.
  • Insistir em pagar a conta a um homem.
  • Achar que querer ir a Cuba durante a ditadura se compara ao desejo mórbido de ver humanos num zoológico.
  • Ser contra o aborto.
  • Relativizar a importância do trabalho.
  • Olhar para as crianças com desconfiança.
  • Ter medo do mar.
  • Resistir aos rótulos de "direita" e de "esquerda".
  • Estimar os entes amados, com zelo e afinco.
  • Pensar que os clientes da prostituição e do striptease são patéticos.
  • Aborrecer-se com a pompa e o hermetismo de palavras e actos do mundo académico.
  • Ser professora e nunca faltar às aulas.
  • Quase nunca ter uma gripe.
  • Irritar-se, até morrer, com quem se atrasa.
  • Preferir a montanha à praia.
  • Adorar trovoadas.
  • Lembrar-se dos aniversários.
  • Gostar de espanhóis.

Thursday, March 13, 2008

Era uma vez uns alcezinhos que tocavam bateria

Do Canadá vieram 4 rapazinhos clarinhos com ar lavadinho, que se postaram nos lugares sem uma palavra e principiaram a dar nos instrumentos como gente grande. O Caribou-mor volta e meia gorgolejava umas palavras em falsete, mas a estrela da companhia era o baterista, que, de ar esgazeado, boca aberta e a expressão de quem estava prestes a ter um orgasmo durante o concerto inteiro, malhava no ferro sem cerimónias. Quando o lourinho da esquerda se lhe juntava no mais perfeito uníssono de baterias já ouvido (se é que tal coisa existia antes), percebia-se que aquela era uma banda de duas baterias fulminantes. Os outros das cordas lá atrás eram esquecidos. Por vezes, os alcezinhos furiosos sustinham-se para o Manitoba ir tocar um xilofone ou um pifarinho, logo voltando, impacientes, às suas amadas baterias. Depois foram-se sossegados como se pisassem neve.

Friday, March 07, 2008

Metro

Pûs-me à fofoca na mercearia do bairro e consta que o hiper que há neste momento à frente da minha casa vai converter-se numa saída de metro. Poderei vir a ser, além de uma cidadã sortuda, uma investidora cheia de potencial.

A Carochinha

Quando eu era pequenina, a minha mãe pôs-me a alcunha de Carochinha. A Carochinha era aquela que tinha ficado rica e dizia que era bonitinha e perfeitinha e boazinha aos pretendentes que passavam. Fez-se esquisita e rejeitou uma data deles, e por fim houve um que lhe serviu, mas que por ser guloso e cusco morreu dentro de um caldeirão. De modo que ela não chegou a casar (ficou só rica).
Há quem diga que os nomes que se dá às pessoas lhes condicionam a vida. Não sei onde a minha mãe tinha a ideia :)

Wednesday, March 05, 2008