Monday, August 04, 2008

De estimação

O meu pai tem uma expressão, com imensa acutilância e graça, que circunscreve bem a fronteira entre o que se quer (ou não) tolerar: "toda a gente tem defeitos, mas uns aturam-se melhor do que outros".

Para com os pouquíssimos espécimes que, pela minha (ainda curta) vida fora, têm saltado definitivamente o cerco para o lado da acrimónia, tenho uma atitude de saudável e honesta reciprocidade, porque estou certa de que há que estimar tão bem os nossos parcos ódios como os nossos inúmeros amores.

Quando se comprou a aparelhagem lá para casa, o primeiro CD que oferecemos ao meu pai foi do Bob Dylan. Esse senhor, que como se sabe nunca foi de fazer jeitinhos a ninguém, não foi para mim o ídolo que representou para o meu progenitor, mas ficou-me na memória pela sua corrosiva "Positively 4th Street". Porque podia ter sido o meu pai a escrevê-lo.

"You got a lotta nerve
To say you are my friend
When I was down you just stood there grinning
You got a lotta nerve
To say you gota helping hand to lend
You just want to be on the side that's winning (...)
You see me on the street
You always act surprised
You say "how are you? good luck!"
But you don't mean it
When you know as well as me
You'd rather see me paralyzed
So why don't you just come out once, and scream it'?!"

2 comments:

Irreligious said...

Perdão: Conceito cristão inventado pelo último cristão (aquele que morreu na cruz) como tentativa de criar e manter uma estável e plácida de cordeiros que não vão de bom grado para o matadouro, mas vão de bom grado à tosquia.

Irreligious said...

Ah já agora, uma musica mais alegre para ti :P

http://www.youtube.com/watch?v=RrsCPUI98fE