Thursday, July 31, 2008

Que bem que se está

no páteo (assim mesmo, à alfacinha de velha cepa) da minha amiga A.
E que petiscos, mamma mia! Grazie, bella!

3 boas sentenças

Todas de Kahlil Gibran, libanês:

"A maioria das pessoas que pede conselho aos outros já decidiu actuar como lhe apraz".

"Qualquer homem ama duas mulheres: a que criou na sua imaginação e aquela que ainda não nasceu."

"Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; por estranho que pareça, não sou grato a esses professores."

Como será que isto soa, em árabe?

Tuesday, July 29, 2008

Retina

São oito da noite (agora que o solstício já se cumpriu e voltou a haver noite) e num sétimo andar sobre o frenesim da Fontes Pereira de Melo, deitada e no silêncio possível que resiste para cá da janela, penso
que se as coisas são sempre iguais e só a forma de as ver é que as muda,
que se as coisas mudam sempre que mudamos a mirada,
então eu vou piscar os olhos as vezes que forem precisas.

Nocturno

Adoro ouvir Bernardo Sassetti. Tenho uma amiga que conhece uma rapariga a quem ele pediu em casamento (e que o recusou) e penso dela "grande tola". Depois lembro-me da Beatriz Batarda e acho que ele levou a melhor. Mas passando o fait divers: na contracapa do seu álbum "Ascent" há uma citação ímpar: "everybody´s life has some rain in it".

O contraste com a delicadeza e a melancolia do álbum, do músico e da frase não poderia ser maior, mas há dias transfigurei a citação para um devaneio privado: "everybody´s life has some Almodóvar in it". Li no Blitz que foi lançada de fresco uma colectânea das canções dos filmes dele, mas a primeira leva, totalmente pré-"Tudo sobre a minha mãe", já a tenho há muito. As ditas saltam-me da cartola em alturas estratégicas; são pirosas, pungentes e estupidamente desarmantes. Tenho 3 preferidas: a caribenha "Sali porque sali", a espanholíssima "Resistiré" e a jóia da coroa, "Puro teatro", cantada por uma senhora de uma enorme voz, amarga e sardónica, chamada La Lupe. Almodóvar sabe tudo o que há a saber sobre a tragicomédia das nossas vidas. Ouço, canto, abano-me, esgoto a humanidade indecente que há em mim.

Troco o CD.
Recosto-me. O piano pinga agora suavemente, elegante, o "Nocturno". Some rain comes over.

Thursday, July 24, 2008

Haja alguma notícia de jeito

"As cadeias de supermercados e hipermercados, que tenham mais de cinco lojas com uma área superior a 300 metros quadrados cada uma, passam a ser obrigadas a disponibilizar serviço de acompanhamento personalizado a pessoas com deficiências visuais. O diploma foi publicado em Diário da República. Além disso, por cada produto que for adquirido, os estabelecimentos têm que garantir a impressão de uma etiqueta em braille com informação como a data de validade, denominação e as características principais. Nenhum destes serviços deverão implicar qualquer custo financeiro para os beneficiários. Caso não cumpram a lei, as cadeias serão penalizadas com multa, que pode ir dos cinco aos quinze mil euros. Cabe à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fiscalizar a aplicação da lei."
(HiperSuper, 24 de Julho de 2008)

El carnaval del mundo

Saudades de um bom tango. Este era cantado pelo Gardel. Semicerro os olhos e desenho coreografias imaginárias num vasto salão vazio.

Sus ojos se cerraron y el mundo sigue andando,
su boca que era mia ya no me besa mas.
Se apagaron los ecos de su reir sonoro
y es cruel este silencio que me hace tanto mal...
Fue mia la piadosa dulzura de sus manos,
que dieron a mis penas caricias de bondad,
y ahora que la evoco hundido en mi quebranto,
las lagrimas trenzadas se niegan a brotar,
y no tengo el consuelo de poder llorar...

En vano yo alentaba febril una esperanza
clavo en mi carne viva sus garras el dolor,
y mientras en la calle, en loca algarabia
el carnaval del mundo gozaba y se reia
burlandose el destino me robo su amor...

Just because

O novo álbum dos Coldplay não me parece, até ao momento, nada de fantástico. Mas tem uma bela letra numa das canções:
"Just because I'm losing
Doesn't mean I'm lost
Doesn't mean I'll stop
Doesn't mean I will cross"

Wednesday, July 23, 2008

O mundo pode ser um lugar bonito

Recebi um email de uma aluna que deixou agora mesmo de o ser. A aluna, com mais idade do que a média dos seus colegas, já passou e teve boa nota.

A mensagem dela representa o tipo de mundo em que fui educada, o tipo de mundo em que acredito e o tipo de mundo que tudo farei para que se preserve.

"Boa tarde, estimada professora (...)
Apesar de já lhe ter manifestado o meu apreço pessoalmente, não queria deixar de lho dizer por escrito, porque, palavras leva-as o vento.
(...)
Esperei pelo final do ano (para não parecer "graxa" (detesto esse tipo de atitude)), para dizer às caríssimas professoras (...) que foi um previlégio para mim, encontrar professoras tão jovens com a dedicação, sabedoria, vocação e prazer em transmitir conhecimentos aliados a uma disponibilidade imensa como as senhoras.
Por todos estes motivos e ainda outros, quero demonstrar o meu apreço e agradecer a atenção que me dispensaram enquanto aluna com as dificuldades inerentes não só da minha vida profissional, como também de saúde e familiares (tenho um filho deficiente em casa).
Sei que enquanto alunos somos muito difíceis, pelo facto as minhas desculpas, pedindo-vos, por favor, não mudem, o Instituto tem que ter professores que possam marcar a diferença, porque se as Senhoras Professoras sabem reconhecer a dedicação e responsabilidade nos alunos, alguns há que também sabem reconhecer os professores que têm.
O meu muito OBRIGADO e boas férias
."

Monday, July 21, 2008

Gatekeeping

A notícia abaixo fez-me rir à gargalhada. Com efeito, a quantidade de gente que a Impresa anda a despedir (incluindo um número já arrepiante de amigos meus) até já deve dar para pagar um "spa" semanal a cada funcionário. Que, daqui a bocado, hão-de reduzir-se aos membros do clã Balsemão, pelo andar da carruagem. Lucrem à vontade, despeçam, indemnizem, o caraças, mas poupem-nos este chorrilho de hipocrisias!

Impresa aumenta 5% salários de funcionários
18 de Julho de 2008 (Meios & Publicidade)
A Impresa comunicou ontem aos funcionários do grupo que iria proceder a aumentos intercalares dos ordenados para fazer face “às grandes dificuldades que os recentes aumentos dos preços dos combustíveis e dos bens essenciais causam às famílias de menores rendimentos”. A medida, com efeito a partir de Julho, dirige-se aos trabalhadores do grupo com salários brutos até 1.500 euros, abrangendo segundo a nota interna, um universo de 389 pessoas, implicando um investimento superior a 200 mil euros até ao final do ano. Os aumentos terão um tecto máximo de 75 euros. A Impresa apresenta para a semana os resultados semestrais na próxima semana, mas os últimos números apresentam um prejuízo de 331 mil euros. Para o segundo semestre as previsões dos analistas são mais optimistas. Segundo uma nota de análise do Millennium bcp, citada pela Reuters, os lucros da Impresa deverão situar-se nos 8,6 milhões de euros neste segundo trimestre, o que representa uma subida de 13% face a período a igual período do ano passado.

Friday, July 18, 2008

Avó Cila


Avó, põe-te boa depressa e vem comigo passear, num domingo de manhã. Vem do Porto a Lisboa, deixa-me ser pequenina e não crescer nunca mais, avó, deixa-me não ter que tomar conta de ti, ter medo por ti, ter medo de te perder, também a ti. Avó, fica. Fica comigo.

Thursday, July 17, 2008

Gato

Hoje de manhã, o meu gato não estava deitado aos meus pés. Enquanto me despachava e tomava o pequeno-almoço, não apareceu. Passei pelo escritório para ir buscar a mala e a pasta e não estava aninhado no sofá.

Percebi que ia ter que fazer uma busca preventiva, antes de sair de casa, mais longa do que a do costume. Pacientemente, percorri todos os recantos do costume, todos os esconderijos de recurso (caixote de areia, atrás das louças da casa de banho, armários). No fim de refazer este percurso 3 vezes e de espreitar em cima dos armários e frigorífico e todos os outros absurdos que ainda restassem, percebi que o gato não estava em casa.

Antes de entrar em pânico, fui analisar os 11 patamares do prédio, um a um. Fui à garagem. Por fim, fui à rua, dei a volta ao quarteirão, perguntei no café. Ainda fui às casinhas do lixo.

O nó na garganta começou a estrangular-me. Ao telefone, a familiar que vive temporariamente lá em casa (e que tinha saído mais cedo que eu) jurava-me que não o tinha visto esgueirar-se quando saíra. Pedi-lhe para ver nas malas de viagem (outra artimanha possível). Não estava. Liguei ao padeiro, que viera pôr-me o pão à porta às 7 da manhã. Não o vira.

Desatei a chorar desbragadamente.

Afixei anúncios nos elevadores, nas entradas. Já lá iam os primeiros 45 minutos do emprego.
No meio do pranto, subi a casa para fazer mais anúncios de "Gato perdido, contacte por favor...".

Quando o telefone tocou com um nº que eu não conhecia, o coração começou a querer saltar-me do peito. A vozinha feminina perguntou: "É a vizinha?"...e eu acho que comecei logo a sorrir entre lágrimas. Estava no 2º Esquerdo, escondido entre cortinados e muito assustado. Fugira graças à incúria da minha inquilina e felizmente encontrara uma porta aberta antes de chegar à da rua. Abracei a vizinha e carreguei-o para casa como um tesouro.

Há apenas dois dias, perguntei à veterinária quantos anos podia durar um gato. "Uns 20", disse ela.

Monday, July 14, 2008

O Alive que já lá vai

Os Vampire Weekend são muito simpáticos e cumpriram bem a missão. Perdi as duas 1ªas músicas, depois de acotovelar todos os que me disputaram a entrada no recinto, de descobrir onde era o maldito Metro on Stage (basicamente, uma tenda de sauna) e depois fiquei até ao fim: pulou-se, cantou-se em coro, tribalizou-se devidamente. Boa 1ª impressão!

Encontrados metade dos amigos, impossibilitada a aquisição de qualquer líquido para empurrar o pão com chouriço, mesmo depois de esperar 15 minutos pelo 1º bem e apenas 1 minuto pelo 2º (nunca vi tanta ineficiência a servir cerveja or else), lá se voltou para a tenda claustrofóbica. Ouviu-se 4-5 músicas de MGMT, que se atrasaram obscenamente ao ponto de só aparecerem quando a vaia ameaçou implodir o recinto e que claramente não estavam em boa forma. A actuação deu vontade de dormir e/ou de lhes bater (fui no carro a tentar explicar à amiga que me acompanhou, enquanto a obrigava a ouvir o álbum, que aquilo era suposto ser dançável e tal!).

Fartei-me tanto que nem esperei por "Time to Pretend"; arrastámos outro amigo entretanto encontrado, rumámos ao palco principal e ainda se ouviu umas quantas músicas dos The National, que continuo a adorar...mas basicamente há bandas que não são para actuar ao ar livre e de dia, ponto final.

Não vi RATM, porque no fim de andar a pular com Gogol Bordello e The Hives (estes sim, os verdadeiros senhores do festival: aquele histrionismo delicioso!) já não tinha mesmo pedalada para mais (e também não sou assim a maior fã).

De resto, achei a organização do festival em si muito bem intencionada, mas com um resultado prático terrivelmente ineficaz: quase não consegui beber fosse o que fosse, tamanhas as filas e a lentidão de quem atendia; a tentativa de ir à casa de banho nos intervalos dos principais concertos raiou o motim; os 2 palcos eram tão longe um do outro que não havia explicação possível, enfim...lá nisso, Super Rock e Rock in Rio levam a palma, e é tudo.

Foi tudo bastante insólito (mas também, olhando para o resto da minha vida...e novidades?).


Para o meu amigo

Guardo apenas 2 sms no telemóvel. Um é da Corrida do Tejo 2007 a dizer-me que terminei os 10 kms em x tempo (quem me conhece sabe o que isso significa). O outro é do meu amigo RC, foi enviado num dia em que eu estava muito triste, em 2005, e deu-me força e carinho para continuar a acreditar e a vencer.
Hoje é a minha vez de dizer: estou cá contigo, sempre, para o que der e vier, meu amigo. Vai tudo correr bem, verás.

Wednesday, July 09, 2008

Fio da navalha

Espantoso como, sem querer, se tropeça no trecho de uma música de um álbum velho ouvido por acaso, e ele diz alto, em escassos segundos, uma coisa como esta (e que já não podemos fingir que não ouvimos):
"I gave a lot to you
I take a lot from you too
You slave a lot for me
Guess you could say I gave you my edge
But I can't pretend I don't need to defend some part of me from you
I know I've spent some time lying"

(Interpol, "The New")

Tuesday, July 08, 2008

Química

Alguém que conheci costumava dizer que tudo é um estado químico, até o amor. Usava portanto o argumento para não distinguir estupefacientes da serotonina e restantes produções "espontâneas" do nosso organismo, quanto ao seu grau de legitimidade para circular pelo complexo bio-emocional humano.

Os químicos, descobri, conseguem fazer muita coisa. Alterar os ritmos circadianos, fazer pensar como um homem (numa coisa de cada vez e pouco em geral), ver sempre o copo meio cheio em vez de meio vazio, falar pelos cotovelos, joelhos e todas as articulações que sobrevivam ao vulcão de euforia, etc.

Agora, quanto ao amor...
...j´hésite.

O que vai animando

A minha querida amiga Sacha (pronúncia dela) / Xaxa (pronúncia minha) vai casar-se! Fiquei radiante por ela! Se alguém merece ser muito, muito feliz, por ser o exemplo maior da tenacidade, coragem e bondade humanas, é ela. Será que é desta que me apanham à cotovelada pelo bouquet? ;)

Em paridade neste rol de qualidades está a minha amiga I., que ontem me mandou um belíssimo postal ilustrado de um cenário mágico que partilhámos nas férias do Carnaval. Devolvo-lhe em troca os melhores votos de tudo o que ela queira...desde que eu esteja lá de vez em quando ;) E parece que uma dessas vezes vai ser já em Agosto, com a ventura extra do confirmadíssimo 3º elemento daquele trio dinâmico que um belo dia se conheceu num avião a caminho de Marrocos, nos idos de 2002, e nunca mais parou!

A M. tem um novo desafio (tropical e político) pela frente: será decerto a mulher de força que sempre tem sido em mais este quebra-cabeças.

A todos os meus amigos: à nossa!

Silly season

A bem achada canção dos Pontos Negros sobre a rapariguinha do shopping revisitada (agora com o seu Ken) tem mais a ver com o livro "A Sociologia do Quotidiano" do sociólogo José Machado Pais do que à partida se poderia supôr. Só mesmo assim é que o intelecto ainda se vai divertindo na modorra estival.

Entretanto, este ano serei infiel ao Super Rock e irei trocá-lo pelo Alive. Vai implicar algum jogging entre palcos (MGMT e The National ao mesmo tempo?! Quem foi o sádico?!) mas promete, em grande.

Friday, July 04, 2008

Nesta semana que passou

Posso não ter feito nada de muito interessante na perspectiva hedonista do caro leitor.
Não li até ao fim nenhum livro (embora tenha comprado mais alguns), deixei acumular os números novos do Courrier Internacional, da National Geographic, da Marketeer, da Agenda Cultural de Lisboa e do Blitz em cima do sofá sem sequer abrir um que fosse, não descobri bandas musicais novas, não fui ao cinema, nem ao teatro, nem a exposições, não saí à noite, nem sequer comprei trapos novos e, com vergonha confesso, mal dei atenção ao gato.
Andei atafulhada em trabalho, corrigi dezenas de pontos, divulguei uns artigos que escrevi, planeei uma reconciliação com o manual do SPSS. Um tédio?

Fazendo o balanço...nada disso!
É Verão a sério. Com todas as suas cores, insinuações e promessas.
No final da tarde de 2ª feira passei a ponte (sem pinga de trânsito) para ir descobrir um bar maravilhoso em S. João da Caparica; areal vazio, mar liso, o pôr do sol mesmo à minha espera ainda todo redondo, antes de se desmanchar em borrão fulgurante. Fiquei uns minutos extasiada antes de entrar e abraçar o meu amigo que fazia anos. Somos amigos há tantos e sê-lo-emos por muitos mais. Adorei a festa dele, as conversas soltas com conhecidos e desconhecidos, adorei o luar que entretanto nos emoldurou enquanto lhe brindavamos. Que seja um grande ano, amigo João "Costas".
Na 4ª feira comovi-me com o nome de código "105" e tive um breve e feliz diálogo que me encheu esta nova e agradável serenidade de uma riqueza maior.
Ontem cheguei a casa e tinha um postal a sério, enviado num envelope a sério, com um selo a sério, de uma amiga que me dizia que, mesmo quando "desaparecia", gostava muito de mim. Sorri até nunca mais parar (sim, estou a sorrir agora).
Uma grande amiga foi entretanto promovida (well done, girl!) e talvez até venha comigo à Jordânia no Verão!
E amanhã vou espreitar os peixes ao Portinho da Arrábida, com amigas madrugadoras, e jantar mousse de chocolate do Luís e da Sandra ao jantar.

As pessoas felizes não têm nada de especial, não é verdade? ;)