Thursday, August 14, 2008

Wednesday, August 13, 2008

Merecido

Mas também, quem inaugurou as composições na escola primária a irritar a professora por dizer que o que preferia no circo era o ilusionista (e não "os palhaços", a resposta correcta-chapa-5), só pode sentir-se justiçada.

Era pouco e se acabou

Mau grado meu, é com "Música" de Vanessa da Mata que este dia termina.

Psicadelismo

Quem precisa de MGMT quando se pode ouvir os bons e velhos Flaming Lips a toda a hora?
"Do you realize
that you have the most beautiful face
do you realize
we're floating in space
do you realize
that happiness makes you cry
do you realize
that everyone you know someday will die?

And instead of saying all of your goodbyes
let them know
you realize that life goes fast
it's hard to make the good things last
you realize the sun doesn't go down
it's just an illusion caused by the world spinning round"

Tuesday, August 12, 2008

YES!

Saiu o mais recente Inquérito às Despesas das Famílias do INE. Muitíssimo melhorado face às edições anteriores, traduzido para inglês para quem queira e, acima de tudo, fascinante do ponto de vista da caracterização dos rendimentos e dos consumos da nossa população nas últimas décadas. Obrigada, INE: tenho orgulho em vós. E ainda bem que esperei um bocadinho mais antes de ir de férias :)

Monday, August 11, 2008

Leituras de fim de semana (2)

Esteve bem Inês Pedrosa nesta sua crónica da revista "Única" do Expresso, publicada no passado sábado. "Passa, uma merda", diz ela a António Lobo Antunes, referindo-se ao débil consolo proferido por muitas mulheres quando o amor, a esperança e o perdão terminam ("depois chorei um bocado e passou-me"). Inês Pedrosa comoveu-se e comoveu-me. Escalpelizou e acarinhou as mulheres, as manhas das mulheres, os enganos das mulheres, os esforços das mulheres, dessas incontáveis mulheres que diariamente guerreiam consigo e com o mundo, "com os olhos na paz", como diria o Sérgio Godinho. Bonita crónica.

Leituras de fim de semana (1)

Escreve regularmente na "Sábado" um senhor que é apresentado com o nome de Alberto Gonçalves, sociólogo. O senhor não escreve mal, mas é azedo, antipático mesmo. Demasiado. Das vezes que o li, não me lembro de lhe ter apanhado um elogio a nada. Tudo o estorva, tudo o insulta, nada o contenta. A coisa intriga-me: pela fotografia, o sujeito não se afigura mal-parecido; autocognominando-se sociólogo, aquilo que geralmente diz não podia ser mais anti-social; por fim, não há nada de errado em ser-se de direita como ele tão esforçadamente demonstra, mas daí a assumir a missão de ter que zurzir no mundo daquela maneira verrinosa, vai uma distância. De onde raio lhe virão tão maus fígados?

Para dizer mal, falta-lhe a genuína habilidade e graça de um João Pereira Coutinho que, sendo também de direita, sabe rir-se e ser mordaz com grande inteligência e invejável arcaboiço intelectual. Este, que exerce o seu métier com inigualável estilo, não precisa da muleta de nenhuma "profissão especialista": é excelente a escrever, e é quanto nos basta e sobra. E acima de tudo, sabe como dizer mal e sabe quando dizer bem.

Porque sempre desconfiei de dois tipos de pessoas: as inseguras (que são, quase sempre, muito perigosas) e as que só sabem dizer mal.

Friday, August 08, 2008

Nunca pensei vir a dizer algo deste género, mas...

Perdi-me de amores por esta miúda.
E percebi que era recíproco, quando ontem lhe sussurrei ao ouvido que compreendia perfeitamente como é que ela já tinha tantos pares de sapatos, porque nunca serão demais; ela riu-se logo de satisfação.
Pisquei-lhe o olho, cúmplice, e fi-la saltar no meu colo.

Da estratificação social

Só agora me preparo para pôr parte do que sei e sinto sobre o tema por escrito numa tese, mas a primeira vez que fui confrontada com a noção de "estratificação social" foi há 27 anos, na escola primária que então frequentava numa aldeia do concelho de Ourém.
Numa sociedade completamente rural como era aquela, havia dezenas de miúdos filhos de camponeses e outros assalariados de baixas qualificações, e duas meninas filhos de empregados do terciário. Uma era eu (que era morena) e a outra chamava-se Sandra (que era loura).
Como é que aprendi, não na pele, mas na consciência, esta diferença? Era simples: a professora batia sem contemplações nem medida nos filhos dos pobres, não se atrevendo a tocar nas duas únicas filhas dos "ricos".
Assistir aqueles espancamentos regulares, por parte de uma matrona imensa e insensível (que dizia aos meus pais adorar-me, mas a quem eu desprezava, já que felizmente nunca fui obrigada a temê-la, nem a ela nem a ninguém), naqueles infelizes pequenitos, deixou-me uma revolta imensa que marcou definitivamente a minha forma de ver o mundo.
Nunca partidarizei a questão, nunca a levei para os dogmas do maniqueísmo: percebi, simplesmente, a minha obrigação de ser uma pessoa melhor e de tudo fazer para consagrar, mais do que em palavras, em actos, o direito que todos têm à igualdade de oportunidades.

Hoje é quase irónico que eu fale da estratificação social à volta de um tema aparentemente tão mais ligeiro que uma carga de pancada, que é o consumo.
Mas não é ao acaso: queiramos ou não (e não esquecendo as neo-angústias daí advenientes), há no consumo um potencial de escolha, afirmação e concretização de sonhos que seriam impensáveis há décadas atrás. Só pelo facto de agora ser um pouco mais difícil distinguir os ricos dos pobres, quer-me parecer que vivemos numa sociedade bastante melhor.

P.S. Quanto ao passar a ser definitivamente proibido e sancionado bater-se nas crianças (sejam professores, pais, ou outros, a perpetrá-lo), espero poder viver para assistir à concretização de mais esse sonho. Há dias houve um tribunal de Braga que aplicou uma multa a um pai que bateu na filha de 16 anos: é um começo. (E não me venham com conversas: o exercício da força perante um ser mais fraco do que nós é pura e simples falta de inteligência para ser convincente de outro modo. Ou acham que se a criança pudesse bater de volta não se arranjava logo uma argumentação diferente?)

Tuesday, August 05, 2008

Dicas de viagem

Ontem, a minha amiga madeirense e eu recebemos, ao mesmo tempo, os nossos respectivos guias de viagem à Jordânia. O meu chegou após 3 dias de encomenda e o dela ao fim de 3 meses (ambos da Amazon). O meu menciona a proibição tácita de usar bikini nas praias públicas de Aqaba e no Mar Morto, aconselhando mesmo o banho em calças e tshirt (recomendação para a qual tenciono borrifar-me completamente; o máximo que condescendo é em levar um fato de banho de piscina, e e…). O guia dela, por outro lado, diz que andar com o cabelo molhado na praça pública equivale a anunciar ao mundo (jordano) que se acabou de ter sexo. Estive quase a puxar de outro cigarro, mas depois pensei maliciosamente: “ainda não…”.

A revista errada

Há dias parei na BP de Telheiras para comprar um maço de tabaco (que é uma coisa que costumo consumir quando o rei faz anos e portanto só por um triz é que não chega a durar décadas). Já tinha pago quando, frente ao escaparate das publicações, procurei debalde a revista rasca de TV que a minha amiga I. me dissera conter uma entrevista com uma antiga colega de apartamento nossa, dos tempos da faculdade. (Parece que continua platinada e protagoniza agora um programa para emigrantes: manteve portanto uma coerência espantosa). Não encontrei a revista; em vez disso, dei de caras com umas parangonas de tablóide a berrar: “Desejada em todo o mundo, Sarah Jessica Parker traída pelo marido”. “Pôrra!”, pensei. E aquilo abalou-me de tal modo que tive que acender um cigarro.

A guerra dos sexos

Um dos artigos do Courrier Internacional deste mês é sobre a divisão do trabalho doméstico por géneros e não traz novidades quando constata que, mesmo nas famílias mais modernas do mundo ocidentalizado, a proporção do trabalho feminino com a casa e os filhos duplica, no mínimo, o masculino. Mas há um dado realmente curioso a assinalar: seja quais forem as profissões, quer em nível, quer em área, deles e delas, o casal tende sempre a achar que a profissão dela é a mais flexível e, portanto, mais passível de abdicação, na totalidade ou em parte. Exemplificando: quer num casal em que ele é médico e ela professora, quer num casal em que ela é médica e ele professor, o casal toma a maioria das decisões de carreira baseando-se no pressuposto de que o emprego dele é o mais importante e que o dela é o mais gerível. Interessante, não?

Monday, August 04, 2008

Olhar para o céu e espantar-se

No 10º ano, tive a melhor professora de Filosofia do mundo. Do nome, só me lembro que se chamava Ana Maria. Sentava-se em cima da secretária com as pernas a bambolear, ou passeava-se entre as nossas mesas (coisa que mais nenhum professor fazia, não fosse cair da tripeça), com a descontracção que só uma imensa sabedoria e uma enorme paixão pelo ensino consegue proporcionar, enquanto nos abria os neurónios para o existencialismo ou o nihilismo, nos falava de Sartre, Nietzsche e Bertrand Russel e nos punha a nós a pensar, a falar e sobretudo a sentir. Lembro-me de ter pela primeira vez aquele contentamento do "é pá, eu já tinha pensado em algo parecido, que giro, isto dito assim faz todo o sentido, afinal há mais gente a pensar como eu" (o que numa cidade provinciana, tão cheia de dinheiro e superficialidade como vazia de intelecto, não era coisa de somenos importância). Nuns dias ia de bota de camurça com salto agulha, saia travada e maquilhagem, noutros ia de ténis e de jeans coçados. Até disso eu gostava nela.

Acho que de todos os seus ensinamentos, o meu preferido foi "é muito importante que nunca deixem de se espantar. Sabem quando vão na rua e passa um avião? Há pessoas que já nem levantam a cabeça para ver...mas já pensaram, que coisa maravilhosa!, vai ali em cima um avião...nunca percam a vontade de levantar a cabeça e continuar a espantar-se".

Ontem, da minha varanda, o pôr do sol liquefazia-se, de um rubro obsceno, miraculoso, atrás do templo hindú. A lua traçava um esbelto quarto crescente mesmo por cima, coisa que até a um céptico é impossível não despertar uma espécie de fé. E de súbito, da direita para a esquerda, foi piscando um avião. Fiquei a sonhar com o seu destino (daqui a quase-nada já irei dentro de um, também) e sorri, enquanto me lembrava da professora Ana Maria.

De estimação

O meu pai tem uma expressão, com imensa acutilância e graça, que circunscreve bem a fronteira entre o que se quer (ou não) tolerar: "toda a gente tem defeitos, mas uns aturam-se melhor do que outros".

Para com os pouquíssimos espécimes que, pela minha (ainda curta) vida fora, têm saltado definitivamente o cerco para o lado da acrimónia, tenho uma atitude de saudável e honesta reciprocidade, porque estou certa de que há que estimar tão bem os nossos parcos ódios como os nossos inúmeros amores.

Quando se comprou a aparelhagem lá para casa, o primeiro CD que oferecemos ao meu pai foi do Bob Dylan. Esse senhor, que como se sabe nunca foi de fazer jeitinhos a ninguém, não foi para mim o ídolo que representou para o meu progenitor, mas ficou-me na memória pela sua corrosiva "Positively 4th Street". Porque podia ter sido o meu pai a escrevê-lo.

"You got a lotta nerve
To say you are my friend
When I was down you just stood there grinning
You got a lotta nerve
To say you gota helping hand to lend
You just want to be on the side that's winning (...)
You see me on the street
You always act surprised
You say "how are you? good luck!"
But you don't mean it
When you know as well as me
You'd rather see me paralyzed
So why don't you just come out once, and scream it'?!"

Cultura variada em Agosto

Ao contário do mês passado, ando a dar conta das revistas que me caíram na caixa do correio no início deste Agosto, com um afinco equivalente ao das espadeiradas de Santiago nos mouros. Devorei a National Geographic sobre a China, maravilhada com as paisagens (Yunnan está-me no goto...) e com a análise sociológica dos conflitos entre milenarismo e mudança, entre tradição e obsolescência, entre gregarismo e individualismo, da maior sociedade de consumo emergente. No Courrier Internacional, impressionou-me a história de um repórter de guerra que se apaixonou por uma paramilitar colombiana (o final não foi feliz) e descobri que se vai a banhos na faixa de Gaza quase como no Algarve (os nadadores-salvadores prestam especial atenção às mulheres, que se banham vestidas, podendo por causa das roupas ensopadas ser arrastadas mais depressa para o fundo do mar). A Agenda Cultural de Lisboa transborda de interesse: dos passeios pedestres e temáticos pela cidade e por Monsanto e das aventuras da Ciência Viva, às múltiplas ofertas de jazz, passando pelo "CCB fora de si", não há para onde uma pessoa se vire. Aqui ficam três propostas, para lançar o repto:

DIZ-ME COMO A CHUVA
Teatro da Comuna, até 9 de Agosto
Cucha Carvalheiro e Isabel Medina juntam-se no Teatro da Comuna, em Lisboa, para um espectáculo sobre o amor, a fuga e a morte, presentes na escrita de Tennessee Williams. Até 9 de Agosto. A peça foi construída a partir do texto "Talk to me Like the Rain and Let me Listen", de Tennessee Williams, onde um homem e uma mulher contam as suas fugas, cumprindo o seu destino. Ao longo da peça, as duas actrizes vão-se transformando em personagens masculinas e femininas.
Preço: €12,5

GLOW
29 e 30/08/2008
Às 19h00 e 21h30, Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian

GLOW é um ensaio coreográfico com uma forte componente tecnológica. Sob o brilho (glow) de um sistema de localização sofisticado, um ser orgânico solitário sofre mutações e vai transitando da forma humana para estados inusitados, sensuais e grotescos. O espectáculo utiliza a tecnologia mais recente de vídeo interactivo para gerar em tempo real uma paisagem digital em reacção ao movimento do bailarino. Os gestos do corpo prolongam-se e, por sua vez, manipulam o universo vídeo envolvente. Como resultado, cada performance é irrepetível. CHUNKY MOVE é uma companhia de Melbourne, fundada em 1995 por Gideon Obarzanek, o seu director artístico. O trabalho da Chunky Move procura constantemente redefinir as possibilidades da dança contemporânea e as suas produções têm sido mundialmente aclamadas tanto pela crítica como pelo público. O espectáculo vai ser apresentado em duas sessões diárias, às 19h00 e 21h30. Preço: 5€

TABÚ
Novo circo, 1 a 31 de Agosto (excepto segundas-feiras), no CCB
Uma nave espacial no CCB e com ela o novo circo pela mão da prestigiada companhia inglesa NoFit State. Tabú é uma viagem de exploração no espaço e no tempo. É uma combinação entre circo, performance, música ao vivo e vídeo em que tudo acontece entre os actores e o público.
Preço: 18€

Friday, August 01, 2008

Próximo destino

Antes de se ir embora, a prima que me vagou o quarto deixou-me ração para gato na despensa. Ri-me à gargalhada.

Depois olhei para a cama que tinha sido dela, toda lisinha e arrumada e, num ímpeto, agarrei na lista de viagem e desatei a despejar-lhe em cima tudo o que ia riscando a eito: saco-cama, botas de trekking, protector solar factor 60, lanterna, bússola, champoos em miniatura, fato de banho, chinelos, passaporte, livros de lombada gorda para devorar em voos longos, ...

Destino: Amman.
Partida: 15 de Agosto.
Contagem decrescente.


Dueto com o Astor, ao som dos Snow Patrol

Ler um pedaço de letra dos Snow Patrol fez-me dedicar atenção ao álbum inteiro. E ontem soube-me bem ouvi-los, deitada no chão, olhos nos olhos do Astor.

Eu:
We'll do it all
Everything
On our own
We don't need
Anything
Or anyone

Ele:
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?

Eu:
I don't quite know
How to say
How I feel

Ele:
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?


Eu:
Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life
All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see