Thursday, June 12, 2008

A medida do sucesso

Está na moda contratar consultoras para despedir pessoas. Uma das artimanhas consiste em atribuir maior pontuação a quem demonstrar maior inépcia familiar, afectiva e social. Veja-se o seguinte exemplo para constatar que aquilo que a Heindrick & Struggles, por exemplo, considera um excelente profissional, equivale, no senso comum que ainda nos reste, a premiar uma autêntica besta.
Nível 1 (o mais fraquito): "Limita-se a cumprir o seu horário de trabalho revelando, por norma, pouca ou nenhuma disponibilidade, independentemente das solicitações, exigências funcionais e problemas decorrentes da gestão da equipa. Raramente aproveita os tempos livres para procurar novas aprendizagens em áreas relacionadas com a sua função específica". Uma nódoa de ser humano, não é verdade?
Nível 3 (o assim-assim): "Cumpre as funções que lhe são solicitadas pelas chefias e costuma fazer sugestões que exijam esforço pessoal complementar e/ou disponibilidade total". Disponibilidade total ainda é pouco. Falta-lhe um bocadinho assim...
Nível 5 (o supra-sumo da caderneta de cromos): "Demonstra disponibilidade total para todo o tipo de funções, independentemente dos horários e do esforço pessoal envolvido. Sem que ninguém lhe peça, candidata-se a trabalhos que exigem grande esforço pessoal e familiar." Este nível de requisitos é, perguntam vocês, para se ser primeiro-ministro, director da AMI ou astronauta? Não, jovens amigos, é para um quadro médio, pago com um ordenado pouco mais que médio, numa empresa média-medíocre, poder manter o seu emprego.

Há coisas que metem nojo, não há?

5 comments:

El-Gee said...

eu sinceramente nao vejo nada de errado nessa classificacao. as empresas servem para fazer dinheiro, nao sao instituicoes de caridade.

Raquel said...

Concordo contigo quanto ao facto de as empresas não serem instituições de caridade. Apenas acho mais inteligente fazer trabalhar pessoas que são felizes: produzem mais e tudo (tenha-se a moral que se tenha). Quanto à escala, é tão válida e/ou hipócrita como tudo o que se queira, quando se trata de avaliar alguém...(no caso do meu amigo, foi só uma bela desculpa para o porem a andar, by the way).

El-Gee said...

mas mesmo isso, raquel, e normal, acho eu.

ja reparei pelos teus posts que temos visoes diferentes do mercado de trabalho e da gestao empresarial, por isso nao queria alongar-me demasiado, mas eu nao acho que as empresas sejam hipocritas ou desonestas.

Claro que as empresas querem empregados felizes, nisso concordamos, mas o q querem mesmo e fazer dinheiro e maximizar lucros. nos como empregados nao podemos estar a espera que as nossas empresas cuidem da nossa vida. uma empresa pertence a um grupo de pessoas, como sabes, os accionistas, e os accionistas nao nos conehcem a nos, os empregados, de lado nenhum.

eles investem dinheiro na empresa para ver um retorno ao seu investimento, e nao para se preocuparem com a vida dos empregados da empresa em que investem, ate porque nao tem qualquer tipo de relacao com eles.

eu, por exemplo, tenho (poucas, claro) accoes de algumas empresas e nao estou preocupado com as politicas sociais dessas empresas, quero e que o preco da accao suba (dentro dos limites da regulacao e da etica profissional, claro).

pela mesma razao, compreendo, por exemplo, referindo-me a um post ali em cima, que a impresa despeca pessoas, por um lado, e aumente os salarios de outras, por outro. fazendo assim, consegue poupar custos (ao operar com menos pessoas) e fazer felizes as pessoas q la ficam, aumentando a sua produtividade. O balanco dos dois fluxos de dinheiro e com certeza positivo e o unico senao e haver mais desempregados no mercado, mas isso e preocupacao deles (e do estado, em ultima analise, pelo menos na europa), nao e preocupacao dos accionistas (e, por anexo, dos gestores) da impresa.

anyway. afinal alonguei-me. ja sei q nao concordas com isto, mas fica a minha visao.

Raquel said...

Pensei em tudo isso também, Luís. Mas há alturas em que aquilo que se pensa não é igual aquilo que se sente. E aquilo que eu senti pelos meus amigos que foram despedidos lembra-me que o mais importante na vida, para mim, são as pessoas.
Em todo o caso, não acho que em termos de sensibilidade e, se quiseres, de decência, tenhamos padrões assim tão diferentes. Obrigada pelo teu post.

El-Gee said...

sim, se estamos a debater sentimentos, e obvio que a historia muda. de nada.